O feriado de hoje já pouco ou nenhuma relação tem com o primeiro dia de Maio de 1886, celebrizado pelas lutas sindicais dos operários de Chicago pela redução a oito horas da jornada de trabalho, que três anos depois a Internacional Socialista consagrou como Dia do Trabalhador.
Um século e meio depois o Mundo mudou tanto que se Karl Marx arriscaria um ataque cardíaco se ressuscitasse e visse os seus compatriotas operários da Volkswagen abrirem mão da semana de trabalho de 35 horas em troca da promessa da administração da empresa em não deslocalizar fábricas da Alemanha para a vizinha República Checa.
Em Portugal, o sinal mais importante a ler neste 1º de Maio de 2008 é a surpreendente e inédita decisão da UGT de aproveitar o dia para descer a Avenida da Liberdade, em Lisboa, desfraldando bandeirolas contra a precaridade do emprego e a favor da redução do IRS.
Até agora, a central sindical socialista encarou sempre o 1º de Maio como um dia de festa,normalmente comemorado nas imediações da Torre de Belém, uma espécie de piquenicão abrilhantado musicalmente por cantores populares.
Pois foi neste ano pré-eleitoral, e com um Governo de maioria socialista instalado em S. Bento, quer a UGT decidiu por trocar o farnel pelo megafone e alinhar no endurecimento da luta contra o Governo Sócrates, retirando à sua concorrente CGTP (que às mesma hora estará na Alameda) o exclusivo do protagonismo anti-governamental.
O primeiro ministro deve reflectir muito seriamente neste sinal que hoje lhe está a ser enviado pelo seu camarada de partido João Proença, secretário geral da UGT.
Alfredo da Costa Fiel, o meu pai, foi escriturário do Serviço de Transportes Colectivos do Porto (STCP)durante toda a sua vida profissional.
Como não dava para os estudos, o meu avô, Jaime da Ressurreição Fiel, inspector dos cobradores no STCP, meteu uma cunha e conseguiu que ele, ainda moço de 16 anos, fosse trabalhar para os escritórios, onde não estava sujeito à chuva e ao sol e não tinha de andar fardado – apenas proteger os punhos das camisas brancas com uns manguitos pretos.
Senhor de um bela caligrafia, que usava para anotar nos livros todas as ocorrências com o pessoal da companhia (férias, faltas, participações e promoções), foi sucessivamente escriturário de 3ª, de 2ª e de 1ª até que a foi tornado obsoleto pela revolução tecnológica das máquinas de escrever e reformou-se após uma vida em que só conheceu um patrão.
Eu tenho 51 anos e sou jornalista há 29. Já conheci muitos patrões, em diversos jornais (Norte Desportivo, Comércio do Porto, Jornal do Comércio, Semanário, Expresso e Diário de Notícias), mas tenho conseguido manter sempre a mesma profissão de jornalistas e sobrevivi à revolução tecnológica do computador de cuja introdução nas Redacções fui aliás um dos agentes activos nos meus gloriosos tempos do Comércio do Porto.
Estou perfeitamente convencido que nenhum dos meus três filhos - todos eles em diferentes fases do processo de inserção no mercado de trabalho (a Mariana está a trabalhar num Subway em Los Angeles, Pedro estuda Astronomia no Porto e o João anda a tentar deixar de ser analfabeto) -vai conseguir atravessar a vida com a mesma profissão.
Na geração do meu pai era normal passar a vida na mesma empresa e com a mesma profissão.
Na minha geração é normal passar a vida com a mesma profissão, mas trabalhando em diversas empresas.
Na geração dos meus filhos não vai ser normal uma pessoa desembrulhar-se durante a sua vida com uma só profissão.
Num Mundo em desvairadas mudanças, para nos mantermos úteis, competitivos e produtivos, é obrigatório fazermos um esforço de permanente adaptação às novas realidades e de actualização dos nossos conhecimentos.
Neste contexto, é suicida a manutenção da rigidez das regras que regem o nosso mercado laboral que gerou o recurso a falsos recibos verdes que afecta 648 mil portugueses,ou seja cerca de um em cada quatro activos que estão na situação de falsos recibos verdes
O Banco Mundial garante que Portugal é um dos onze países do Mundo em que é mais difícil contratar ou despedir trabalhadores, devido à rigidez da legislação laboral.
Na Pensilvânia, vive a comunidade amish, magistralmente retratada no filme “A Testemunha”. Os amish recusam tudo quanto seja tecnologia. Não usam a electricidade. São um pedaço dos inícios do século XIX que logrou chegar intacto ao século XXI.
Recusar as urgentes alterações ao Código do Trabalho que facilitem os despedimentos e flexibilizem os horários de trabalho, é ter uma atitude idêntica à dos amish. Significa teimar em viver no passado.