Autópsia à CGTP
Lembram-se daquelas imagens de Berardo, de braços no ar e dedos abertos em V, a ser vitoriado como um salvador por velhos trabalhadores com bandeiras da CGTP , à saída da asembleia da PT que assinalou a derrota da OPA da Sonae?
Essas imagens são a certidão de óbito passada ao sindicalismo português. A Marcha Fúnebre seria a banda sonora mais adequada.
Quem mesmo após este episódio caricato e ficasse com dúvidas sobre o estado do sindicalismo português, ficaria com elas completamente desfeitas ao saber que a CGTP campeã da luta por melhores salários, contratos definitivos e o direito à greve, emprega funcionários a recibo verde, que ganham mal e são desaconselhados a fazer greve.
Esclerosados, desorientados, incapazes de compreender e se adaptar a um Mundo que muda a 200 km/hora, os nossos sindicatos já estão mortos há uma data de tempo. O único problema é que alguém se esqueceu de os avisar de que já morreram - ou então disseram-lhes mas eles fizeram de conta que não ouviram..
O 11º Congresso da CGTP , que reúne esta semana, é um misto de encontro de «zombies» e ajuste de contas entre comunistas da linha dura e «compagnon de route» que a direcção do PCP passou a catalogar como idiotas que já não são uteis.
As colunas dos jornais dedicadas ao congresso são preenchidas com especulações sobre a relação de forças que sairá da reunião. Já se sabe que o PCP controla a central com mão de ferro. Dos 19 membros da Executiva há nove que são do Comité Central do PCP. E o secretário geral, Manuel Carvalho da Silva, é militante desde 1975.
O problema é que o «Manel» amoleceu. Pôs-se a estudar Sociologia à noite, casou-se com um mulher 25 mais mais nova e doutorou-se com uma tese em que tenta encontrar uma resposta para o fracasso dos sindicatos.
Pedro, um jovem licenciado em Belas Artes que trabalha na área de marketing da PT, não estave a aplaudir Berardo no Forum Picoas. Não é sindicalizado, tal como três em quatro trabalhadores portugueses. Quando lhe perguntam porquê, explica por outras palavras que o sindicato não lhe serve para nada. A resposta é cuidadosa porque ele é o filho mais velho de Carvalho da Silva.
O «Manel» já percebeu que os sindicatos não têm futuro. Falta-lhe a coragem de assumir que gastou em vão 25 anos da sua vida.
Compreende que a globalização, o individualismo, os fluxos migratórios, o aumento da esperança de vida, a revolução tecnológica, o aumento brutal da precaridade no trabalho (20% da força de trabaho em Portugal vive à mergam de qualuqre tipo de contrato!) e a reorganização do capitalistalismo passarem ao lado dos sindicatos que pararam no tempo das máquinas de escrever e da televisão a preto e branco.
Mas em vez de confessar a impotência do sindicalismo em sobreviver, adaptando-se às novas realidade, prefere culpar as desvairadas mudnaças pela morte da CGTP.
O 11º Congresso da CGTP seria útil se em vez de servir de palco a lutas intestinas do PCP procedesse a uma autópsia honesta ao sindicalismo português. E se em vez da Executiva, elegesse uma Comissão Liquidatária.
Jorge Fiel
Esta crónica foi publicada hoje no diário económico Oje (www.oje.pt)