A vida não é como jogar ao Monopólio
Sempre achei que é uma seca jogar ao Monopólio. Demora uma eternidade, é desprovido de emoçãos e não exige muito das nossas celulazinhas cinzentas. Outra coisa não seria de esperar de um jogo inventado por um vendedor de aquecedores desempregado.
Se Charles Darrow fosse um tipo realmente genial teria criado um jogo de sociedade excitante e nunca teria vendido por tuta e meia os direitos do Monopólio à Parker Brothers, sem acautelar o direito de receber royalties por cada caixa vendida.
Para se ganhar ao Monopólio não é preciso ter um Belmiro de Azevedo. Baste seguir uma táctica tão simples como as de Scolari. Compramos todas as ruas, empresas e estações ferroviárias que podemos. Rezamos para não irmos parar à cadeia, não termos de pagar impostos e não sermos obrigados a passar pela casa de partida sem receber os correspondentes dois contos.
A única arte que o Monopólio nos exige é sermos hábeis na negociação para a troca de propriedades que nos habilite a construir rapidamente casas e hotéis nas ruas mais caras – Rossio, ruas Augusta e do Ouro e avenida da Liberdade – para desgraçarmos. os adversários que tenham a infelicidade de lá cair e por isso serão condenados a pagar rendas proibitivas, encaixe que aplicaremos imediatamente na edificação de mais casa e hotéis.
Crescer, crescer, crescer a todo o custo e sempre, é a lição número um do Monopólio. É uma lição grande, mas não é um grande lição. Trata-se de um mau conselho.
A vida não é como jogar ao Monopólio. A vida incorpora bastante bluff, um pouco de batota, muito instinto e ratice, alguma temeridade, uma enorme capacidade de arriscar e ser capaz de lidar com grandes doses de incerteza. A vida real é muito mais parecida com o Poker do que com Monopólio.
Infelizmente a receita para o sucesso está muito mais para além do que simples conjugação do verbo crescer.
Custa-me muito ver que há muitas e boas empresas portuguesas que estão obcecadas com a ideia do crescimento, que não pensam noutra coisa senão em ganharem dimensão, negligenciando a rentabilidade e o módico de prudência que é indispensável guardar nesta conjuntura de grave crise e incerteza a nível internacional.
Este não é o tempo para acelerar. Nós não estamos a viajar numa auto-estrada com três pistas e sem trânsito, mas sim numa estrada estreita, cheia de buracos, curvas e contra- curvas perigosas e pejada de automóveis, alguns dos quais estão a ser conduzidos por gente imprudente. Por isso, temos de estar com os cinco sentidos bem aguçados e com o pé junto ao travão. Para não nos estampar-nos.
Jorge Fiel
Esta crónica foi publicada no Diário de Notícias