Muito provavelmente falta-me informação – técnica e preciosa. Não arranjo outra explicação para o disparate tremendo que me parecem ser a obras de remoção dos carris do eléctrico das avenidas Brasil e Montevideu.
Os carris estavam lá desde tempos imemoriais. Quando eu era miúdo (o que já foi há um data de tempo) passava Agosto na praia do Molhe onde a minha família alugava uma barraca ao mês. Fiz sempre de eléctrico o percurso entre a minha casa, na avenida Rodrigues de Freitas, e a Foz.
Progressivamente substituído pelos autocarros, o eléctrico foi morrendo aos poucos, até que lhe passaram a certidão de óbito. A título de prolongamento do Museu do Carro Eléctrico e evocação do passado, foi deixada em actividade parte da actividade da antiga linha 1, na marginal fluvial.
O eléctrico arrastava-se moribundo, mas os carris em que outrora se deslocavam mantinham-se orgulhosamente vivos durante décadas a fio ao longo dos cerca de dois quilómetros da marginal marítima do Porto.
Agora que a crise do petróleo devolveu o eléctrico à lista das boas soluções a considerar no que concerne aos transportes públicos urbanos, e que Rui Rio investiu, com pompa e circunstância, no regresso do eléctrico à Baixa, alguém (jurem-me, pf, que não foi o presidente da Câmara!) decidiu gastar uma pipa de massa a levantar os carris na Foz.
Não me parece ser necessário ter um pós doc. em transportes públicos urbanos para perceber que faz todo o sentido dilatar até ao Castelo do Queijo/Avenida da Boavista (ou até mesmo a Matosinhos, onde poderia amarrar na linha do Metro) o percurso da linha 1, que nasce no Infante (mesmo ali ao pé da fantástica Igreja de S. Francisco) e agora se interrompe na Cantareira.
Arrancar os carris do eléctrico nesta altura do campeonato, soa-me a um imenso e dispendioso disparate.
Será que há por aí alguém que saiba coisas que eu não sei e me consiga explicar o sentido daquela obra na Foz?
Jorge Fiel
PS. Estão todos convidados para a grande reinauguração da Lavandaria, que terá lugar amanhã, 2ª feira, véspera de Natal, aqui no Sapo (lavandaria.blogs.sapo.pt).
Para sublinhar a ocorrência, trago à luz do dia um «post» mártir dos heróicos tempos da Roupa para Lavar, que apesar de ser copiado dos melhores dicionários da língua portuguesa (Houaiss, Porto Editora e Academia) deparou com um gélido acolhimento por parte das autoridades do Expresso.
Espero que todas as preclaras e preclaros me façam o subido favor de me distinguirem com a vossa visita. Obrigado!
Ontem fui à Baixa. O destino final era o Media Markt de Fernandes Tomás, mas o trânsito estava de tal maneira entupido que desisti de lá chegar com o automóvel. Deixei a minha carrinha Fiat Marea estacionada em frente ao Palácio da Justiça.
A propósito do Palácio da Justiça, abro um parêntesis para desabafar que não é feita a devida justiça ao mais lídimo exemplar portuense da arquitectura Estado Novo- prima direita das majestosas arquitecturas soviética e nazi/fascista.
Foi sábia a decisão de deixar o carro junto ao Jardim da Cordoaria. Por sugestão do João (o mais novo dos meus três filhos tem sete anos) embarcamos na roda gigante instalada na praça fronteira à Cadeia da Relação.
A roda gigante veio mais uma vez provar a justeza da opção dos arquitectos da Porto 2001 de deixar as praças da Baixa despedias de ornamentação supérflua, preferindo-as como uma folha de papel em branco que os cidadãos se vão encarregando de preencher.
É nas despojadas praças da cadeia da Relação e D. João I , e na não menos despida avenida dos Aliados que estão provisoriamente instalados equipamentos de diversão natalícia – a árvore, uma pista de patinagem e a roda.
Voltando à roda, há a referir três boas surpresas: o preço (a viagem de cinco voltas é de borla) , a formidável vista que proporciona – foi bonito ver ao entardecer a árvore de Natal e a Torre dos Clérigos – e a confirmação da beleza minimal da reconversão do Jardim da Cordoaria dirigida por Camilo Pinto, que devolveu aos habitantes da cidade um gueto nocturno outrora apenas usado por «gays» ao engate e era um santuário da prostituição masculina.
A árvore do Natal do Millennium inspira-me sentimentos contraditórios.
A favor, tem o facto de ser linda, atrair gente e animação – e ser adorada pela ganapada.
Contra, há a contabilizar o duplo desperdício energético – não só da energia que a iluminação que ela consome mas também os gastos que induz ao engordar (e de que maneira) os engarrafamentos natalícios.
O Media Markt é um óbvio e valoroso melhoramento para a Baixa. Já o Gran Plaza (o mais recente centro comercial do Porto de que o Media Markt é a âncora) foi para mim uma enorme decepção.
A inauguração do Gran Plaza foi no essencial boa para o seu vizinho e concorrente Via Catarina, que está a bater recordes de vendas, surfando em cima da curiosidade motivada pela dupla Media Markt/Gran Plaza.
Acabei a minha excursão à Baixa descendo Santa Catarina até à Batalha, onde lamentei uma vez mais a longa frequência (passa de meia em meia hora) e a estreiteza do horário (acaba às 19h00) do eléctrico da linha 22.
Eu e o João gostaríamos muito de ter tido a oportunidade de regressar de eléctrico até à zona dos Leões, onde tínhamos deixado a Fiat Marea.
É com alguma distância crítica que junto a minha voz ao coro de aplausos ao regresso do eléctrico à Baixa, um feliz mas insuficiente acontecimento que dura há já um mês.
A Linha 22, ou da Baixa, vem juntar-se à histórica e resistente Linha 1 (Infante-Cantareira) e à Linha 18, que faz as vezes de elevador ao vencer a íngreme rua da Restauração, ligando o rio, em Massarelos, à zona dos Leões.
O regresso dos eléctricos à Baixa era um dos principais fundamentos do Plano de Mobilidade para a cidade, desenhado por uma equipa da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), no âmbito do Porto 2001, que esteve a ganhar mofo na gaveta durante os quatros anos do primeiro mandato de Rui Rio.
A reconquista das ruas ao automóvel era o alfa e o ómega do Plano de Mobilidade, que reservava ao eléctrico um papel nuclear na nova rede urbana de transportes, que tinha como nova vedeta e âncora o Metro.
À Linha da Baixa (com um desenho bastante idêntico ao actual percurso do 22) estava destinada a função de estabelecer a ligação entre dois principais núcleos comerciais – Leões/Cedofeita e Batalha/Santa Catarina -, atravessando o coração do centro (a avenida dos Aliados).
Nos dois extremos terminais, a Linha 22 articula-se com o funicular de Guindais e a Linha 18, garantindo ligações ao Douro (na Ribeira e em Massarelos) e amarrando-se nestes dois pontos à Linha 1, que outrora seguia do sopé da Igreja de S. Francisco (Praça do Infante) até ao mercado de Matosinhos -e que agora se detém na Cantareira, dando por concluída a sua tarefa no lugar onde o rio encontra o mar.
A rede de eléctrico já e razoável na sua extensão e configuração, mas ainda sabe a muito pouco quando analisada do ponto de vista da frequência.
Ao passar apenas de meia em meia hora, a Linha 22 é um óptimo programa para os turistas, que a bordo de um aprazível e barato meio de transporte ficam a conhecer toda a Baixa e com ligações fáceis à Ribeira, Marginal e Foz. É, também, uma bela maneira de reformados e outros desocupados matarem com qualidade o excesso de tempo livre de que dispõem. Mas não é uma alternativa razoável, como meio de transporte, para as deslocações quotidianas das pessoas com afazeres.
Se estou nos Leões e preciso de ir à Batalha, não posso, nem quero, arriscar estar meia hora à espera do eléctrico. Ou apanho o autocarro ou opto por ir a pé.
Para o regresso do eléctrico ajudar mesmo à revitalização da Baixa é urgente fornecer companhia ao solitário carro eléctrico que faz a Linha 22 e reforçar o percurso com pelo menos mais dois carros.Dez minutos é o máximo tempo de espera tolerável para um transporte colectivo, nas horas de expediente.
Acho um enorme desperdício investir um milhão de euros num eléctrico que é apenas turístico.
Tragam, por favor, para as ruas os carros eléctricos que vivem agasalhados no Museu do Eléctrico, em Massarelos.
Ponham, por favor, em cima da mesa o projecto da equipa da FEUP que preconizava que a Linha 1 volte a desaguar em Matosinhos, amarrando-se aí à rede de Metro, depois de fazer um belo percurso por toda a Marginal.
E, por último, não se esqueçam (também por favor…) de que a melhor e mais barata alternativa ao Metro na Avenida da Boavista é uma nova linha de eléctrico, que ligue o Castelo do Queijo à Rotunda da Boavista.