Com os dois pés no Porto é o slogan da recandidatura de Rui Rio.
A CDU acusa-o de lhe ter copiado o slogan, que tudo leva a crer se inspira, presumo que involuntariamente, no lugar em que o FC Porto teima em terminar cronicamente o campeonato nacional de futebol.
Suponho que a escolha do slogan se filia na única grande crítica que o número dois do PSD tem a fazer à candidatura de Elisa Ferreira – que acusa de ter um pé no Porto e outro em Bruxelas.
Sobre esta questão da colocação dos pés, devo dizer que acho mil vezes preferível ter um pé no Porto e outro em Bruxelas, do que ambos os pés no Porto e a cabeça em Lisboa – que é o que acontece com Rio.
Interrogado sobre se, em caso de reeleição, tenciona cumprir o mandato até ao fim, o ainda presidente da Câmara do Porto disse: “A pergunta faz sentido, mas não quero falar disso”.
É óbvio por que é que ele não quer falar disso.
Alguém duvida que, se uma onda laranja varrer o país, Rio não hesitará um segundo antes de trocar o Porto por um ministério?
Alguém duvida que, se vislumbrar uma oportunidade de suceder a Ferreira Leite, Rio não hesitará um segundo antes de trocar o Porto por um gabinete na rua de São Caetano à Lapa?
Com os dois pés no Porto? Deixem-me rir. Rio é como o gato escondido, que deixa o rabo de fora.
O saudoso almirante Pinheiro de Azevedo, que enquanto primeiro ministro brilhou ao pôr o seu Governo em greve
No dia em que Rui Rio anuncia a sua recandidatura à presidência da Câmara do Porto, o que os politólogos e comentadores de serviço discutem é se ele tem ou não perfil para ser primeiro-ministro e que hipóteses tem de suceder a Ferreira Leite na liderança do PSD.
Rio não consegue esconder que a sua ambição política se estende muito para além do escritório que ocupa há oito anos nos Paços do Concelho do Porto – e o seu próprio chefe de gabinete já se imagina em S. Bento, como ministro da Presidência de um Governo liderado por Rui Rio.
Triste a sina do Porto de cair nas mãos de pessoas que o olham como trampolim para voos mais altos, como ponto de partida – e não como ponto de chegada.
Os comentaristas de serviço acham escandaloso que Elisa Ferreira se candidate ao Parlamento Europeu e à Câmara do Porto, apesar dela ter jurado que troca Bruxelas pelo Porto no dia em que os portuenses a elegerem.
Os comentaristas de serviço acham normal que Rio se candidate à Câmara do Porto com os olhos postos no Governo e na liderança do PSD e que seja público e notório que porá os cornos à cidade - assim surja a oportunidade.
Os comentaristas se serviço acham normal que Ilda Figueiredo seja a cabeça de lista CDU ao Parlamento Europeu e se candidate à presidência da Câmara de Gaia – mas no caso de Elisa o mesmo comportamento denota ela estar “agarrada ao tacho”.
Dito isto e citando o falecido almirante Pinheiro Azevedo (que curiosamente morreu logo a seguir a ter dado uma letal entrevista ao chefe de gabinete de Rio, Manuel Teixeira):Bardamerda para os comentadores de serviço!
O Porto é o distrito do país com mais casos de tuberculose, com 36 casos por mil habitantes, de acordo com os dados divulgados pelo Centro de Referência Nacional da Tuberculose.
O Porto é o distrito do país mais atingido pelas falências, com 28% do total de insolvências registadas, de acordo com o Estudo de Insolvências e Constituições de Empresas Portugal 2008/2007, da Coface.
O Porto é o distrito mais pobre do país, com 252 mil famílias a viverem do Rendimento Social de Inserção (RSI), de acordo com um estudo do Ministério da Segurança Social. Só no concelho do Porto, mais de 10% dos moradores sobrevivem à custa do RSI.
Sem futuro, sem lideres, sem investimento e sem projectos, o Porto está triste e caminha para uma situação social explosiva.
Para inverter a situação, o melhor é começar pelo princípio e arranjarmos uma liderança. Na minha opinião, a esperança do Porto chama-se Elisa Ferreira.
O discurso em que Elisa Ferreira apresentou a sua candidatura à presidência da Câmara do Porto foi longo (nove páginas A4) mas merece ser lido - mesmo pelos que o ouviram.
Gostava de chamar a atenção para dois passos desta declaração.
O primeiro é a forma elegante como a Elisa chama a atenção para a dramática hemorragia de massa cinzenta que o Porto está a sofrer:
“Decidi vir aqui pedir-vos que me deixem dedicar, de forma total e exclusiva, os próximos anos da minha vida ao Porto, à minha cidade!, à cidade em que nasci, em que estudei, em que trabalhei e em que gostava que as minhas filhas pudessem viver bem”
O segundo é a maneira definitiva como arrumou num parágrafo com a falsa questão da dupla candidatura (Parlamento Europeu e Câmara do Porto), que à mingua de outros argumentos tem sido brandida pelos indefectíveis de Rio:
“Nada, senão o Porto me faria desistir deste combate essencial para o nosso futuro: o combate por uma União Europeia mais competitiva e mais coesa, por uma Europa em que todos possam ter voz. Daí o meu compromisso de hoje, perante vós: se me derem a vossa confiança, deixarei Bruxelas e consagrarei ao Porto a totalidade das minhas forças nos próximos anos. Serei, a tempo inteiro, a presidente da Câmara Municipal do Porto! A primeira mulher presidente da Câmara do Porto!”.
Ainda bem que a contagem decrescente para a mudança já começou!