Morte aos tolos pessimistas
A fantástica galeria de personagens do Tintin ficou mais rica, em Charutos do Faraó, com a chegada de Oliveira da Figueira, bem disposto comerciante, sempre pronto a oferecer um cálice de Vinho do Porto para agilizar a conversão em cliente e amigo de um novo conhecido.
A facilidade em convencer os outros a comprar-lhe artigos de utilidade duvidosa é a principal característica deste português, a que Hergé recorreu em mais três aventuras (No País do Ouro Negro, Carvão no Porão e Joias da Castafiore).
Menino para vender ventoinhas as esquimós e aquecedores na Guiné, Oliveira da Figueira simboliza o desenrascanço e o espírito aventureiro que fazem parte do nosso código genético e se revelaram em todo o seu esplendor na empresa dos Descobrimentos e da expansão marítima, em que demos novos mundos a conhecer ao Mundo, enquanto fazíamos negócio com o ouro da Mina e a pimenta da Índia.
Este nosso jeito não desapareceu com o fim do Império e foi ele que, aliado à grande capacidade exportadora da indústria do Norte, poupou o país à bancarrota na dúzia de anos que mediou entre a perda das colónias e a admissão no clube que nos deu dinheiro fácil.
Após 25 anos em que a fonte que jorrava de Bruxelas disfarçou a incompetência da governação, assegurada à vez por PS e PSD, Portugal volta a balouçar à beira do abismo, por culpa de um modelo errado de desenvolvimento que apostou todas as fichas nos serviços e em Lisboa, criou uma abundante classe de corruptos e parasitas (Duarte Lima e Oliveira e Costa são apenas a ponte do iceberg) e negligenciou a agricultura e a indústria, produtoras de bens transacionáveis.
Um quarto de século volvido, são novamente as PME e o Norte que estão a impedir o país de ir pelo esgoto abaixo. Com três motores (investimento e os consumos público e privado) em desaceleração, as exportações, que no 1.oº trimestre cresceram 11,6%, são o único motor que mantém o avião da nossa economia a voar, creio que na boa trajetória.
Face a este formidável desempenho, os velhos do Restelo preferem chamar a atenção para o abrandamento de março (em que as exportações cresceram 8,3% face aos 13,5% dos dois primeiros meses), esquecendo-se de referir a grande queda no consumo verificada em Espanha (que absorve 1/4 das nossas vendas externas) e na Alemanha nesse mês em que as importações caíram 10%.
As cassandras catastrofistas acusam Vítor Gaspar de um "otimismo incompreensível" por prever para 2012 um aumento de 3,4% nas exportações, que, recordo, cresceram 11,6% no 1.0º trimestre, e 7,9% no ano passado - uma excelente surpresa face às estimativas de que apenas subissem 2,2%.
Em vez de se entregarem a inúteis exercícios de autoflagelação, os tolos pessimistas, que olham para os dois lados antes de atravessarem uma rua de sentido único, fariam melhor em aplaudir de pé os heróis que fazem de Portugal o país da Zona Euro onde mais crescem as exportações - apesar das extremas dificuldades no acesso ao crédito e a seguros de exportação.
Jorge Fiel
Esta crónica foi hoje publicada no Jornal de Notícias