Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Eu vou morrer

Vou morrer. Só não sei quando, nem como, sabe-se lá se de uma maneira tão prosaica e inopinada como a falecida colega Marie Colvin, a repórter de guerra do "Sunday Times" que usava uma pala à Moshe Dayan sobre o olho esquerdo e foi desta para melhor a tentar recuperar os sapatos durante um bombardeamento das forças do regime sírio ao centro de Imprensa de Homs.

O Grande Criador, na sua infinita bondade e sabedoria, achou por bem organizar a nossa vida como um thriller, ou seja cheia de suspense e de imprevisto relativamente ao momento do passamento.

Nós, tal como as empresas, nascemos, crescemos, amadurecemos e morremos, sendo que a duração do ciclo da vida se prende não apenas com fatores subjetivos, que podemos gerir, mas também com fatores objetivos, que nos escapam ao controlo - e nos podem levar a perecermos subitamente, vítimas de doença mortal, como um cancro letal, para o ser humano, ou da invenção do computador pessoal, para o fabricante de máquinas de escrever.

Pessoas e empresas podem viver cada dia como se fosse o último, como se não houvesse amanhã, sacrificando a longevidade no altar do prazer e lucro imediatos. Ou podem poupar-se, optando por uma gestão prudente de corpo, alma e recursos, reinvestindo em vez de estar sempre a distribuir pingues dividendos.

Podemos ter uma vida mais longa ou mais breve, mas ninguém,  pessoas ou empresa, logrará escapar à Grande Ceifeira. É à luz desta inevitabilidade que temos de pensar a evolução das falências.

Apesar de estar em curso um violento ajustamento das nossas vidas e costumes, a subida das falências acusada pelas estatísticas é relativamente modesta, situando-se em cerca de 2% do universo total de empresas, enquanto que a média nos países desenvolvidos ronda os 8% por ano.

Esta discrepância significa que as 4731 falências registadas em 2011, apesar de serem mais 14% que em 2010, não são necessariamente um motivo de preocupação. O que é dramático é que a lentidão da justiça esteja a retardar o processo natural de regeneração do tecido económico e a atrapalhar o normal funcionamento do mercado, prejudicando concorrentes, fornecedores, credores e trabalhadores (os da Nórdica das Caxinas demoraram mais de 12 anos a receber as indemnizações a que tinham direito).

Aproveito esta reflexão sobre falências para chamar a atenção para as oportunidades de negócio na indústria da morte, um setor onde a
procura é superior à oferta (a escassez de crematórios tem obrigado à deslocação até à Figueira da Foz de cadáveres nortenhos para serem incinerados) e o risco é quase nulo.

Só na ficção de Saramago (o magistral "Intermitências da morte") é que as pessoas deixam de morrer. Na vida real, com o envelhecimento da população, estão a cair como tordos.

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Jornal de Notícias

 

O que é bom para o Norte é bom para Portugal

Em Janeiro, fecharam as portas dez empresas por dia – revela um estudo da Dun & Bradstreet.

A construção civil foi o sector mais atingido pelas falências, neste primeiro trimestre do ano.

O Porto foi o distrito mais sacrificado, com 28% do total das falências. Se lhe juntarmos Braga (16%) e Aveiro (8%) temos que 60% das empresas que sucumbiram eram da grande área metropolitana nortenha.

A doença de que esta vaga de falências é sintoma, não vai afectar apenas o Norte, ao contrário do que gente de vistas curtas poderá julgar.

As PME que estão a tombar, asfixiadas pelo criminoso fechar da torneira do crédito bancário, são, na sua maioria, empresas exportadoras de bens transaccionáveis, de que tanto precisamos para atenuar o galopante crescimento do défice externo.

Estas falências são um mau sinal, porque nos dizem que o emagrecimento brutal da nossa economia está a ser feito à custa do músculo – e não da gordura.

O definhar da indústria transformadora nortenha anuncia um terrível e longo período de vacas magras para nossa economia e significa que permaneceremos atolados no pântano da crise mesmo depois dos ventos da retoma soprarem nos nossos parceiros da UE.

Nunca fez tanto sentido como hoje, a frase que Jorge Braga de Macedo gostava de repetir sempre que, enquanto ministro das Finanças, atravessava o Mondego: O que é bom para o Norte é bom para Portugal.

Jorge Fiel

www.lavandaria.blogs.sapo.pt

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2013
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2012
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2011
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2010
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2009
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2008
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2007
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub