Guimarães somos todos nós
Viajar à borla e conhecer pessoas (muitas e variadas) foram as duas razões fundamentais que me levaram a aspirar ser jornalista, uma decisão sábia tomada mais ou menos a meio do meu curso de História, algures na segunda metade dos anos 70.
Não foi fácil, mas compensou. "O caminho é sinuoso, mas o horizonte é radioso". Não encontro melhor frase do que esta, pedida emprestada ao livrinho vermelho de citações do presidente Mao, para sintetizar o que aconteceu na sequência de minha decisão de me tornar jornalista.
Não foi fácil. Até conseguir ser jornalista habilitado a pedir a carteira profissional, fui revisor de provas aqui no JN e colaborador do "Norte Desportivo", especializado em todas as modalidades que metiam água (natação, canoagem, remo, vela...) e em relatos de jogos de futebol feitos via rádio.
Mas compensou. Ainda não tinha passado um ano sobre o orgulho de ter visto o meu nome impresso pela primeira vez num jornal quando tive o meu baptismo do voo, viajando até à Grécia para acompanhar a estreia de velejadores portugueses num Mundial de Windsurf, como enviado especial do "Norte Desportivo" - onde tive a sorte e o privilégio de conhecer, trabalhar e aprender com jornalistas já consagrados, como o Manuel Tavares, o Fernando Santos e o Couto Soares, que 32 anos depois reencontrei na Redacção do nosso JN.
Ao longo destes anos, o jornalismo tem sido muito bom para mim e deu-me tudo (e em quantidades mais que generosas...) quanto eu ambicionava quando era um jovem universitário e deitava contas ao futuro. Fartei-me de viajar, de viver experiências e conhecer pessoas e mundo.
Jamais esquecerei as viagens ao fim da tarde, a bordo do Star Ferry, entre Kowloon e Central, a primeira vez que passeei deslumbrado na Broadway, o prazer de estar deitado na relva, numa manhã quente de Verão, na Place des Vosges, ou de dar um mergulho logo após o acordar, em Ipanema.
Sou urbano. Se me pedissem a lista das minhas cidades preferidas, eu teria de fazer duas. Na das cidades tipo Scarlett Johansson, que nos deixam de boca aberta e a salivar, constariam obrigatoriamente Hong Kong, Nova Iorque, Paris e Rio de Janeiro. No outro top ten, no das cidades tipo Juliette Binoche, que nos dão vontade de namorar, têm lugar cativo Cracóvia, Santiago de Compostela, Praga - e Guimarães.
Com o peito cheio pelo orgulho por termos uma cidade tão bela, cujo Centro Histórico foi classificado pela UNESCO como Património da Humanidade, não podemos deixar de dizer, em coro, Guimarães somos todos nós.
A três dias da inauguração da Capital Europeia de Cultura 2012, sinto a obrigação de fazer notar que é imperdoável não aproveitarmos esta oportunidade que Guimarães nos está a oferecer para visitar, conhecer, saber mais e viver a cidade onde começou esta grande aventura chamada Portugal.
Jorge Fiel
Esta crónica foi hoje publicada no Jornal de Notícias