Marta Moreira
Marta Moreira. Esta é a história de uma rapariga da Linha de Cascais que estudou no Liceu Francês e teria ido para Medicina se a média de 15 valores com que concluiu o secundário não fosse curta demais. Em boa hora optou por ir estudar Engenharia Alimentar para o Porto, um curso que lhe abriu a porta de duas multinacionais. Primeiro esteve seis anos na Matutano, grupo Pepsi. Mais tarde mudou-se para a McDonald's, onde ao cabo de dez anos, foi promovida a responsável pela qualidade de 1400 restaurantes da Europa do Sul
Nome: Marta Moreira
Idade: 40 anos
O que faz: Gestora de qualidade da McDonald’s em Portugal e na Europa do Sul (Espanha, Itália, Grécia, Malta, Marrocos, Suiça, Bélgica e Holanda)
Formação: Licenciada em Engenharia Alimentar (1995) pela Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica
Família: Casada com um arquitecto, de quem tem dois filhos, o João Maria, que tem oito anos e joga golfe no Belas Clube, e a Carminho, quatro anos
Casa: Andar em Paço de Arcos, com um terraço de 120 metros quadrados, onde os filhos andam de bicicleta e o cão (um labrador preto e enorme) tem a sua casota
Carro: Mazda 5 (monovolume)
Telemóvel: Blackberry
Portátil: HP (o pessoal é um Mac)
Hóbis: Tem muito pouco tempo livre para hóbis. Como viaja pelo menos duas vezes por mês, aproveita o tempo que passa em aviões e aeroportos para ler. Os últimos autores que leu foram Isabel Allende e Miguel Sousa Tavares. Ao fim de semana, quando não está a fazer de chófer dos filhos, vai ao cinema e anda a pé ou de bicicleta na Marginal
Férias: No Verão, passam uns dias em Moledo (a família do lado dela tem lá casa) e outros em Figueira da Foz (é o sítio da família do marido) antes de fugirem do nevoeiro, água fria, vento e chuva, instalando-se 15 dias no Algarve (Prainha). De ve3z em quando fazem uns fins-de-semana prolongados no estrangeiro – os últimos foram em Barcelona e Paris
Regra de ouro: “Sou honesta e sincera. Estou muito feliz por ter uma equipa excelente porque detesta trabalhar com pessoas incompetentes”.
A engenheira que controla
frescos, fritos e grelhados
O ponto crítico é a temperatura. Não a temperatura do ar, porque Marta não trabalha no Boletim Meteorológico, mas a temperatura a que os alimentos são conservados e cozinhados, pois ela é a responsável máxima pela qualidade de toda a comida servida nos 1400 restaurantes McDonald's da Europa de Sul, região com contornos geográficos curiosos, pois Bélgica, Holanda e Suíça são três dos nove países que integram esta espécie de albergue espanhol.
“A temperatura é o ponto fulcral. Não só a temperatura a que os alimentos são armazenadas, mas também a que são cozinhados. Para ser segura, a carne tem de ser grelhada a 69º ”, explica Marta, acrescentando haver nuances em relação aos fritos. A UE aceita que o óleo atinja os182º, mas a nossa legislação portuguesa é mais exigente, estabelecendo um tecto de 180º. “Como na McDonald's não gostamos de trabalhar em cima dos limites, fritamos a 178º, para ter margem”, esclarece, antes de referir os funcionários nos restaurantes estão obrigados a lavar as mãos de meia em meia hora (o que explica a manga curta dos uniformes) porque a higiene é o segundo ponto crítico.
O baptismo na McDonald's deu-se com uma sandes de frango (McChicken), quando ela tinha 18 anos, num restaurante em Filadélfia, onde o pai, oficial da Marinha de Guerra, estava colocado. No entretanto, o Royal Deluxe (e às vezes o M) passou a ser a sua sandes preferida.
Marta sempre viveu em Paço de Arcos. Estudou no Liceu Charles Lepierre, o que se compreende pois a mãe dava aulas de Português e Francês, e só se virou para as engenharias quando constatou que a sua média no secundário (15 valores) era curta demais para Medicina. Calhou escolher Engenharia Alimentar no Porto (onde viveu seis anos, partilhando um T2 na Foz com uma prima) e hoje está satisfeitíssima por estas opções.
No final do curso, a seguir a um estágio de seis meses em Reading, Inglaterra, na área dos vinhos, desatou a mandar currículos para todo o lado até que a chamaram da Matutano (grupo Pepsi) para um período de experiência no sistema de segurança alimentar. “Gostei muito de trabalhar na produção, a aplicar todos os conhecimentos aprendidos na Faculdade”, conta. A melhor prenda que recebeu no dia em que fez 25 anos foi dizerem-lhe ia ficar e com um contrato melhorado. “Até essa altura, o dinheiro que ganhava ia todo para a gasolina e para as portagens, nas viagens de ida e volta até ao Carregado”, lembra Marta, que logo trocou o Uno a cair de poder por um Punto novinho em folha.
Foi feliz e progrediu muito na carreira durante os seis anos em que se demorou pela Matutano. O único problema é que não raro entrava às oito da manhã e só saia às onze da noite. “Tive de sair de lá para me casar”, graceja. Mas apesar da carga horária pesada e de continuar solteira, Marta não estava muito convencida de que queria mudar quando uma caçadora de cabeças a desafiou a ir para consultora de qualidade na McDonald's, que como agravante ficava ao pé da porta dela, em frente à praia de Santo Amaro de Oeiras.
“Foi uma decisão complicada, porque profissionalmente estava muito bem na Matutano”, diz Marta, que arriscou trocar uma multinacional por outra - aos 40 anos ela não sabe o que é trabalhar para o Estado ou uma empresa nacional. Onze anos depois, olhando para trás, tem mais uma vez a certeza de que tomou a decisão certa. She is lovin’it!
Jorge Fiel
Esta matéria foi publicada no Diário de Notícias