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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Noronha Nascimento

Único filho varão (tem duas irmãs) do matrimónio entre um advogado de Lisboa e uma Noronha, Luís António Noronha Nascimento nasceu no Hospital de Santa Maria, no Porto, em 1943.

Da escola primária, em Cinfães, no Douro, onde estava ancorada a família materna (que tem raízes do outro lado da raia), recorda amigos que fez para a vida e um professor que era um génio, na poesia e música, e infelizmente morreu ainda antes dele concluir a 4ª classe.

Já os estudos liceais foram feitos no Porto, no D. Manuel II, onde, no 6º ano, teve um professor de Literatura (Óscar Lopes) que lhe deixou um episódio tatuado na memória um episódio:  “A aula que nos deu sobre o surgimento do Romantismo, na literatura mas também nas outras artes, foi tão fascinante que nenhum de nós ligou aos toques para intervalo e para o regresso às aulas; tal era o nosso fascínio que a sua exposição só foi interrompida quando chegaram o professor e a turma que iam a seguir ter aula naquela sala”.

Cresceu e fez-se homem entre Cinfães, Porto e Lisboa. A casa de Cinfães junto ao rio, onde ainda vive a mãe, de 94 anos, fica nos limites da região demarcada do Douro e bem perto de Tormes, o que contribui para perceber a sua paixão por Eça de Queiroz. No Porto, a família mantém uma casa, riscada por Mário Bonito (arquitecto modernista contemporâneo de Siza, autor, por exemplo, do edifício onde está a Livraria Leitura), na zona do Pinheiro Manso, habitada actualmente pelo seu filho mais velho, que é advogado (o mais novo também se licenciou em Direito mas trabalha numa multinacional).

“A mais antiga recordação que tenho de Lisboa é de ver o Almada Negreiros encavalitado a pintar os painéis da Gare Marítima de Alcântara”, lembra Noronha do Nascimento, que passava a Páscoa em Lisboa, para onde rumavam  todos a bordo do carro do pai, numa viagem que demorava um dia, e fazia praia em Cascais, em Agosto, seguido de um mês de campo, em Cinfães, por altura das vindimas.

Por mais do que provável influência do pai, Agostinho Nascimento (de quem também herdou o sportinguismo, a que acrescentou uma simpatia pelo FC Porto: “É o meu segundo clube”), resolveu ir para Direito. Como não havia esse curso na Universidade do Porto, inscreveu-se em Lisboa, onde tinha família.

Desembarcou em Lisboa e logo no primeiro ano viveu a crise académica de 1962, liderada por colegas mais velhos, como Jorge Sampaio, Vítor Wengorovius, Eurico de Figueiredo e Medeiros Ferreira, um ambiente efervescente que não estranhou pois provinha de uma família de ideias liberais, profundamente apegada à ética e ideias republicanas, que lhe proporcionara recordações marcantes da célebre campanha presidencial de Humberto Delgado.

A sua ideia era ser advogado – “Nunca me tinha passado pela cabeça ser juiz” – e tinha planeado abrir um escritório com um amigo do Porto, mas os atrapalhados anos 60 furaram-lhes os planos. Apesar de ter acabado o curso em 1966, apenas foi chamado na tropa em 1971, pelo que começou a vida como delegado do procurador, durante quatros anos e meio, fazendo uma peregrinação pelas comarcas de Parede, Pombal e Santo Tirso.

Chamado a cumprir o serviço militar obrigatório, fez a recruta no Lumiar (Escola Prática de Administração Militar) e foi depois colocado no Quartel General da Região Militar Norte, no Porto, onde viveu os preparativos do 25 de Abril, o golpe de Estado propriamente dito, bem como o fantástico período que se lhe seguiu, que protagonizou como adjunto do capitão que se ocupou do Ministério do Trabalho.

A tropa mudou-lhe o rumo à vida. Como casou no final da recruta, ainda antes de passar à peluda decidiu fazer o concurso para juiz, pois com 29 anos e já pai sentia que estava em idade de assentar. Debutou como juiz em Trancoso e passou pelo Marco de Canavezes, Famalicão, Gaia e Porto antes de ser promovido a juiz desembargador na Relação de Lisboa. Estava aberta a primeira porta de um caminho que o levaria ao Conselho Superior de Magistratura e, depois, ao lugar mais alto da Justiça em Portugal: a presidência do Supremo Tribunal de Justiça.

Jorge Fiel

Esta matéria foi publicada na edição de Dezembro do Advocatus

 

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