Notícias da cauda
Bonjour,
O meu pequeno-almoço preferido em Paris é na Ladurée, da Madeleine. A versão básica inclui um pão, um croissant, um pain aux raisins e um brioche, manteiga, frasquinhos de compotas e mel, bem como a escolha de uma bebida fria (opto sempre pela acidez do sumo de toranja em detrimento do de laranja) e outra quente - chá, café ou chocolate (não tão grosso quanto o espanhol, em que a colher quase consegue ficar de pé, mas bem mais saboroso).
O petit-déjeuner Ladurée não é barato, mas é uma experiência que recomendo a todos, até pela sala Império e a freguesia, uma mistura de adolescentes russas endinheiradas e velhas sul-americanas ricas com franceses/as bon chic bon genre. Imperdível.
Domingo, constatei que para beneficiar deste pequeno luxo não se paga só em dinheiro (18 euros por cabeça), mas também em tempo, pois esperamos 25 minutos na queue (fila) por uma mesa.
Queue foi a palavra-chave destas miniférias do Carnaval. Sábado, o voo da Ryanair aterrou em Beauvais por volta das 10.00, mas já passava das 13.00 quando chegámos a Paris, porque o nosso lugar na queue não nos habilitou a embarcar no autocarro das 10.30 para a Porte Maillot. Tivemos de aguardar estoicamente ao frio na queue até chegar o das 11.30.
À tarde, na paragem de autocarro, na Bastilha, demorámos meia hora a perceber que o 69 não ia chegar - uma manifestação interrompera o seu percurso. Por isso, fomos de metro até à hora e meia de queue para comprar os bilhetes para a Torre Eiffel.
Segunda-feira, em dez horas da Disneyland, conseguimos entrar em dez actividades, o que dá a aterradora média de 57 minutos de queue por três minutos de diversão. Caríssimo, pois há que acrescentar a este preço os 70 euros da entrada e do bilhete de RER. Muito mais baratos foram os 50 minutos investidos terça de manhã na queue para o Museu d'Orsay. Proporcionar aos nossos filhos a experiência de dúzias de Cézannes, Van Goghs, Degas e Rousseaus vale bem os oito euros da entrada (que não pagámos, beneficiando das borlas para menores de 12 anos, estudantes 18-25 anos e jornalistas) e o mesmo tempo de espera que a pífia Casa Assombrada da Disneyland.
Como temos de tirar partido de todas as situações, mesmo as adversas, nesta viagem aprendemos:
a) A língua dá-nos pistas que não raro negligenciamos: não é por acaso que os franceses usam o patientez quando nos põem à espera;
b) A paciência treina-se, e qualquer ocidental após um dia na Disneyland fica a pedir meças a um chinês;
c) Como o tempo é dinheiro, a fórmula de cálculo do custo efectivo de uma diversão deve contabilizar o tempo investido na queue;
d) Devemos pensar duas vezes antes de resmungar: "Isto só mesmo cá em Portugal."
Au revoir
Jorge Fiel
Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias