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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Um paradoxo para lamentar

Talvez por não ter tomado chá em pequenino, ando a esforçar-me para recuperar o atraso. Há mais de uma dúzia de anos que chaleira, bule e caneca fazem parte do meu equipamento básico de secretária, a par do copo de cartão amarelo do Nathan's (surripiado na loja original de hot dogs, em Coney Island), onde acomodo tesoura, borracha, agrafador, lápis e esferográficas Muji.

Este hábito de beber fica barato aos meus empregadores, que apenas contribuem com a água e eletricidade. Eu entro com equipamento, mão de obra e chá - como em tudo na vida, gosto de variar, mas o meu preferido é Earl Grey de chá verde da Fortnum & Mason.

Mal chego ao JN, antes de me sentar a ler os jornais, ligo o computador e vou à casa de banho encher a chaleira de água. Talvez por causa desta minha rotina diária, tive uma enorme dificuldade em perceber por que é que, de acordo com um estudo do Conselho da Administração (CA) da Assembleia da República (AR), servir água da torneira aos deputados ficaria 30 vezes mais caro do que manter a distribuição gratuita de água mineral engarrafada.

A análise deste interessante paradoxo exige informação de contexto. Em novembro de 2010, para pouparem dinheiros públicos, os deputados decidiram passar a matar a sede com a água da torneira.

Esta louvável resolução não passou da potência ao ato, pois o eminente José Lello (então presidente da CA da AR) declarou-se incapaz de organizar a operação logística de distribuição de água da torneira pelos deputados.

Nesta legislatura, com o não menos eminente Couto dos Santos a governar a casa da democracia, o assunto está de volta com o estudo que conclui que suprir as necessidades mensais dos deputados de 3200 litros de água engarrafada fica por 259 euros, enquanto que hidratá-los com água da companhia custaria 2710 euros!

Tudo tem uma explicação. Sendo a matéria-prima muito mais barata vinda da torneira do que comprada engarrafada, o que encarece a primeira solução é o custo da sua implementação.

De acordo com o estudo, a distribuição de água da torneira implica um investimento de 4680 euros em jarros (verba contestada pelo deputado socialista Pedro Farmhouse que acha possível comprar 100 jarros por 1300 euros)  e exige a afetação a tempo inteiro de pessoal especializado às tarefas de "enchimento, limpeza, colocação e arrumo de vasilhames".

Acresce ter ficado sem resposta uma questão nuclear de carácter geoestratégica. A saber, onde ir buscar a água? Às casas de banho do Parlamento, que ficam perto, ou à cozinha, que fica longe?

Vistas assim as contas, está tudo explicado e o paradoxo parlamentar traveste-se num paradoxo para lamentar.

Fica claro como a água (engarrafada ou da torneira) que os deputados vivem num mundo diferente do nosso. Se calhar até estamos todos a ouvir o mesmo disco - mas seguramente uma canção diferente. Eles falam e pensam em FM. Nós em OM. Só pode ser isso. Mas é grave. E chato!

 

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Jornal de Notícias

Ofereço-me para director do Canal Parlamento

A televisão não é a minha praia (a escrever ainda se dá um jeito, agora ecrã...) mas uma pessoa tem de ganhar a vida e por isso participo semanalmente em dois programas televisivos, às terças no Porto Canal e às quartas no Canal Q. Feito este esclarecimento, devo dizer que a minha segunda reacção (a primeira foi rir-me tanto como quando leio o Inimigo Público) à notícia da constituição da 9.ª Comissão parlamentar de investigação ao acidente de Camarate foi a de me oferecer para director do Canal Parlamento.

Sei que a minha experiência em televisão não é nada por aí além. Aceito que não seja elegante usar esta coluna para me candidatar a um emprego. Mas estou sinceramente convencido de que sou capaz de tirar partido da matéria-prima que frequenta aquele edifício para aumentar de forma exponencial as audiências do Canal Parlamento - que quando passo por lá, no exercício do meu direito ao zapping, me parece tão animado como o Cemitério dos Prazeres à meia-noite.

A transmissão dos sonolentos debates devia ser integrada numa grelha dinâmica, com rubricas, reportagens e programas. A constituição da 9.ª comissão de inquérito ao acidente de Camarate deu-me a ideia de constituir outras comissões parlamentares para se ocuparem de assuntos de idêntico calibre e utilidade, como averiguar em definitivo a existência ou não do Pai Natal ou investigar as circunstâncias trágicas do desaparecimento de D. Sebastião em Alcácer Quibir.

Acho que neste momento se impõe uma reportagem sobre as extremas dificuldades que José Lello, presidente do Conselho da Administração da AR, está a encontrar para implementar a decisão dos deputados de passarem a beber água da torneira, em vez da engarrafada.

Lembram-se do Ricardo Gonçalves, aquele deputado PS de Braga que, apesar de ganhar 3700 euros/ /mês (mais 60 euros/dia de ajudas de custo) se foi queixar ao Correio da Manhã que não tem dinheiro para comer? Quem melhor do que ele para ser a cara de uma rubrica sobre as tasquinhas que servem refeições económicas em Lisboa?

E a Inês Medeiros devia aproveitar a sua carinha laroca e a fama ganha naquele episódio de lhe pagarmos os voos para Paris para apresentar um programa de viagens.

E aquele assessor do PSD, apanhado em flagrante, às sete da manhã, pelas mulheres da limpeza, quando se preparava para dar uma queca à namorada em pleno hemiciclo, é a pessoa ideal para animar um debate semanal sobre sexo.

Acho que sou a pessoa certa para imprimir uma nova dinâmica ao Canal Parlamento. Se os responsáveis do canal forem desta opinião, não façam cerimónia, digam qualquer coisinha para o jfiel56@gmail.com. Obrigadinho!

 

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias

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