Breve evocação da generosa vida de Dionísio Santos Silva, portuense ilustre
Dionísio Santos Silva
Neste dia em que se comemora o centenário do regícidio, quero homenagear Dionísio Santos Silva, portuense ilustre e um dos lideres da levantamento armado republicano do 31 de Janeiro de 1891, no Porto.
Dionísio, o inaugurador de quatro inclíticas gerações de Santos Silva, começou a vida como operário chapeleiro e desde moço se envolveu nos movimentos cívicos que assinalaram o início do estertor da Monarquia no último quartel do século XIX.
Em 1877, com 25 anos, foi um dos principais agitadores da greve dos chapeleiros. Porteriormente fundou e foi um dos administradores do jornal Republica Portuguesa, onde colaboraram Basílio Teles, Teófilo Braga, Latino Coelho e António José Almeida, entre outros.
Já era um homem maduro (tinha 47 anos) e estava estabelecido com uma chapelaria no número 65 da rua de Santo António (que mais tarde viria a ser rebaptizada rua 31 de Janeiro) quando foi um dos conspiradores e cabecilhas da revolta de 31 de Janeiro.
Envergonhados com a cedência monárquica ao Ultimatum Britânico (a Coroa aceitou desistir do Mapa Cor-de-Rosa que consistia em criar a África Meridional Portuguesa, de costa a costa, entre Angola e Moçambique), os republicanos portuenses preparam um levantamento militar para derrubar o regime monárquico, que saiu para a rua na manhã de 31 de Janeiro e foi esmagado, por volta da hora do almoço, com o reduto final dos amotinados render-se depois de ter sido encurralado na Praça da Batalha, ao cimo da rua de Santo António, pelas tropas fieis ao rei.
Dionísio foi encarcerado no paquete Moçambique, ancorado em Leixões, e submetido a Conselho de Guerra. Com ele preso, a chapelaria abriu falência. Quando foi libertado recompôs a vida como sócio gerente do Teatro Circo Águia de Ouro.
Dionísio inaugurou uma dinastia de quatro gerações de Santos Silva que marcaram pela positiva, nos últimos 120 anos, a vida da nossa nobre, invicta e sempre leal cidade.
O seu filho Eduardo era médico e foi por duas vezes presidente da Câmara do Porto, tendo sido ele quem criou o Conservatório de Música e a Maternidade e lançou a obra de abertura da avenida dos Aliados e dos Paços do Concelho. Deputado, votou a favor da entrada de Portugal na I Guerra Mundial e de seguida, coerente com o voto, demitiu-se do parlamento e alistou-se no Corpo Expedicionário Português, onde serviu em França, como capitão médico. Era o ministro da Instrução Publica no útmo governo da I Repubica, derrubado pelo movimento do 28 de Maio.
O seu neto Artur era advogado e um dos mais destacados oposicionistas à ditadura salazarista. Foi um dos dois Artures (o outro foi Artur Andrade, o arquitecto que riscou o belo cinema Batalha) que se meteram no comboio e foram a Lisboa convencer, em nome dos republicanos, Humberto Delgado a candidatar-se à Presidência da República. A sua casa, no 321 da rua do Bonfim, era, ao mesmo tempo, a um antro de conspiração contra o regime e um lugar de cultura, frequentado por Mário Soares, Sophia, José Régio, Torga e Salgado Zenha, entre outros.
O seu bisneto Artur é advogado de formação mas distinguiu-se como banqueiro ao ser o fundador do BPI, o primeiro banco privado português a nascer depois das nacionalizações do 11 de Março de 1975
É na generosa vida de Dionísio Santos Silva em que eu penso e reflicto neste dia - o primeiro de Fevereiro e o dia a seguir ao 31 de Janeiro.
Jorge Fiel
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