Expulsar as cadeiras das salas de reunião
As conversas que distraem os operários durante o trabalho diminuíram radicalmente na Inarbel desde que as “grandes músicas” da RFM começaram a passar, 24 horas por dia, na instalação sonora da fábrica. Esta foi uma das três coisas que aprendi na visita guiada que o empresário têxtil Zé Armindo, 36 anos, me proporcionou à sua fábrica, no Marco de Canaveses, onde produz roupa para criança da marca Dr Kid.
Se com a RFM e intervalos de 15 minutos, de duas em duas horas, aumentou a produtividade na fábrica, para atingir esse objectivo nos escritórios Zé Armindo teve de fazer desaparecer as cadeiras e encomendar mesas especiais, com mais de um metro de altura.
Na Inarbel as reuniões são de pé, para poupar tempo. Numa reunião de pé, tratam-se, em 15 minutos, assuntos que demorariam hora e meia a resolver numa reunião com toda a gente sentada.
Costuma dizer-se que o tempo é dinheiro, mas Jim Rohan, um especialista em programas de motivação, ensinou-nos que o tempo é mais valioso do que o dinheiro, porque podemos sempre ganhar mais dinheiro, mas não podemos ganhar mais tempo – o dia nunca durará mais do que 24 horas.
Contas feitas por alto, calculo que, desde que há 30 anos comecei a trabalhar, participei em cerca de dez mil reuniões. Algumas foram divertidas, como, por exemplo, aquela de preparação da primeira página do Expresso em que o Zé António Saraiva, face à ausência da Cândida Pinto, sugeriu que aproveitássemos para dizermos mal dela, proposta logo acatada por todos. Mas a esmagadora maioria foram chatas e ineficazes, um desperdício de tempo e dinheiro.
Sempre me impressionou que jornalistas brilhantes se comportassem como miúdos travessos abandalhando as reuniões, chegando atrasados, atendendo o telemóvel, entregando-se a pequenos exercícios de vaidade, distraindo-se em conversas laterais, falando a demais e a despropósito.
Oito em cada dez empresários portugueses acham que a maioria das reuniões são desnecessárias e improdutivas, segundo um inquérito da AESE. Tudo que é excessivo faz mal. Até comunicar. Entre FB, Twitter, mails, Messenger, reuniões e telefonemas gastamos a comunicar tempo que seria mais bem empregue a trabalhar. O excesso de reuniões é uma das maiores fontes de ineficiência das organizações. Segundo calcula Kevan Hall, o guru inventor do “speed lead”, desperdiçamos um dia por semana (nove anos de vida!) em reuniões que não acrescentam valor.
Seriamos todos mais ricos e felizes se imitássemos o Zé Armindo, eliminássemos as cadeiras das salas de reunião e encomendássemos mesas 40 cm mais altas. A prosperidade passa por reuniões menos frequentes e mais curtas.
Jorge Fiel
Esta crónica foi publicada hoje no DN