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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Rui Miguel Nabeiro

O segredo do café expresso perfeito está na moagem. Se demasiado fina, o café sabe a queimado. Se demasiado grossa fica aguado. O ponto crítico é a moagem, mas o segredo, segundo Rui Miguel, 32 anos, começa por um bom café, condição necessária mas não suficiente. “Não se fazem omeletas sem ovos, mas com ovos e fazer-se uma péssima omeleta”, comenta o neto do homem que há 50 anos, criou a Delta, em Campo Maior, num armazém de 50 m2, com duas bolas de torrefacção com capacidade para 30 kg.

O expresso perfeito “obriga a olho e mão para a moagem”, e exige sete gramas de bom café, água a 90ºC e uma pressão entre 19 e 21 bar. Quem o garante é Rui, que a nosso pedido, no final da refeição, foi até à máquina tirar os cafés, demonstrando que além da teoria também tem a prática.

Os dois expressos perfeitos remataram uma refeição em que ele optou por um caril de gambas à Oriental. A escolha do vinho não teve segredos. Foi só pedir o saca rolhas. Na mesa na Doca de Santo, reservada pela Delta, já estava uma garrafa de tinto alentejano Reserva do Comendador, da família Nabeiro.

Rui Miguel não tem poiso certo ao almoço. Está sempre a variar pois aproveita para contactar clientes. E a Delta tem uma data de clientes directos: mais de 45 mil, trabalhados por uma rede de 250 vendedores, que cobrem todas as ruas do país.

Apesar das raízes da família Nabeiro estarem solidamente estabelecidas em Campo Maior (onde empregam cerca de 60% da população), Rui Miguel nasceu e cresceu em Lisboa, onde fez um percurso escolar calmo (secundário nos Salesianos, Gestão na Católica), desprovido de segredos quanto ao futuro. Nos fins de semana e nas férias grandes, em Campo Maior, o avô (que fez 80 anos na 2ª feira)  estava sempre a dizer aos netos: “Vocês têm de vir ajudar o avô. Não posso ficar sozinho”. Todos os três lhe fizeram a vontade: Rita, a irmã de Rui Miguel, ocupa-se do marketing dos vinhos, e Ivan, o primo, trabalha em Campo Maior.

“O avô começa a trabalhar às seis da manhã e nunca pára antes das nove da noite. E transmitiu-nos essa energia. Temos de lhe agradecer ter-nos proporcionado uma vida confortável e estudarmos sem preocupações. E a melhor forma de lhe agradecer é dar o nosso contributo para o grupo que ele criou e desenvolveu”, explica Rui Miguel, acrescentando, meio a brincar (por isso também meio a sério): “Nós não trabalhamos para viver. Nós vivemos para trabalhar”.

Acabou o curso em Julho (2003) e a 1 de Setembro estava a apresentar-se em Madrid, no escritório da Coprocafé (o maior comprador mundial de cafés verdes), a iniciar uma pós graduação informal em café, que o levou ao Vietname (maior produtor mundial de café robusta), e a Winthertur (no estado maior suíço da Volcafé, outro gigante da compra de cafés verdes).

De montante (os cafés verdes) passou jusante (o tirar do café propriamente dito) com uma estada em Itália no fabricante de máquinas de Brasilia, onde afinou a mão e o olho para acertar no ponto da moagem. Passou ainda por Santos, no Brasil, onde frequentou o único curso mundial de provadores de cafés.

Imbuído de toda esta ciência, regressou a Portugal, passando dois anos em Campo Maior, junto ao departamento de inovação, preparando a resposta à ofensiva da Nestlé, que tirava partido da novidade Nespresso para aumentar a sua quota num mercado liderado pela Delta.

A Sarah Lee, gigante mundial do café, resolveu atacar a Nestlé produzindo cápsulas que funcionam nas máquinas Nespresso. A Delta não quis ir por esse caminho, que Rui Miguel considera pouco leal e um desrespeito pelo trabalho dos outros: “Em vez de atacar com o coração, resolvemos usar a cabeça ”.

Usar a cabeça foi apostar em máquinas próprias, com fabrico e design nacional, e replicar em cápsulas o café que a Delta é boa a fazer, com o paladar, aroma e equilíbrio que o português gosta  - e não um produto internacional. Em menos de três anos, a Delta Q tem mais de 200 mil máquinas vendidas e calcula ter uma quota de 30% (nada mau, pois a Nespresso começou há dez anos)  num mercado que vai crescer, uma vez que com a cápsula, que já trás a gramagem e moagem certa, é muito mais fácil tirarmos em casa o café expresso perfeito.

Jorge Fiel

Esta matéria foi hoje publicada no Diário de Notícias

 

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Doca de Santo

Doca de Santo Amaro Armazém CP, Lisboa

Pão …0,70

Azeitonas  … 1,00

Água 0,5 l … 1,90

Tinto Reserva Comendador … 45,00

Caril de gambas à Oriental …12,50

Bacalhau espiritual … 8,95

2 cafés ..3,00

Total … 73,05

 

 

Curiosidades

 

Nelly Furtado vai estar no Festival Delta Tejo, que este ano, em que a marca de café comemora 50 anos, vai ter o seu cartaz reforçado apesar das limitações que a sua filosofia própria impõe  - o palco está reservado a músicos portugueses (Nelly entra devido à sua costela açoriana) ou provenientes de países produtores de café. Em meio século de vida, a Delta é líder nos mercados português (resistindo a todos os ataques da Nestlé) e angolano de café, e está no top 5 espanhol (sendo líder na Estremadura e Andaluzia)

Rui Miguel, que tem dois filhos (João e Luca) e é casado com uma italiana,  bebe cinco cafés dia. Dois expressos com leite logo ao pequeno almoço, outro a meio da manhã, um a seguir ao almoço e o quinto a meio da tarde. À noite, no momento depois do jantar, bebe um Red Q, uma das cápsulas vedeta da Delta Q, que parece um café mas efectivamente é um chá Roiboos, tranquilizante e muito rico em anti-oxidantes

 

Ir tomar café é um momento socialmente importante para nós, portugueses. Quando queremos falar com uma pessoa, convidamo-la para tomar café – mesmo que depois encomendemos uma água, cerveja ou Coca Cola. Os espanhóis, nas mesmas circunstâncias, dizem: vamos tomar uma caña? Apesar disso, o consumo anual de café  no nosso pais é mais baixo (2,5 kg per capita) que o espanhol (cerca de três kg) e está a milhas do dinamarquês (11 kg) e dos restantes nórdicos, que estão sempre beber litros de café arábica (que tem metade da cafeína do robusta)

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