Há um par de meses, António Costa pôs o dedo no ar, declarando-se indisponível para guarda- redes do Benfica mas apto para liderar o PS. Estou 200% de acordo. Tudo é possível desde o episódio Roberto. E Dino Zoff foi campeão do Mundo aos 40 anos. Mas o António tem crescido para os lados os centímetros que lhe faziam falta em altura e não é novo - tem 51 anos e com essa idade já nem o Benje era guarda-redes.
Acho que ninguém, nem mesmo o atual secretário-geral, tem dúvidas. Costa é o socialista mais apto para liderar o partido. É tão melhor que até se resguarda na Câmara de Lisboa enquanto Seguro faz de lebre na corrida de fundo em que a meta são as legislativas de 2015. Só na última volta é que ele vai saltar do pelotão para sprintar e tentar a vitória eleitoral.
O Costa sabe-a toda. Sabiam que teve a arte de vender os esgotos de Lisboa à EPAL por 100 milhões de euros? Ou seja, que nós, contribuintes de todo o país, pagámos uma fortuna para sermos donos das tubagens onde circulam águas limpas e sujas evacuadas por meio milhão de lisboetas e provenientes das suas sanitas, lavatórios e urinóis? Cheira bem, cheira a Lisboa? Até me arrepio só de pensar nisso!
Sabiam que vamos comprar por seis milhões de euros os terrenos onde está o CCB? Sabiam que lhe pagámos 286 milhões de euros para Lisboa não atrapalhar a privatização da ANA e reconhecer a propriedade do Estado sobre os terrenos do aeroporto, alvo de disputa porque, quando os adquiriu, Duarte Pacheco acumulava o Ministério das Obras Públicas com a presidência da Câmara de Lisboa e havia dúvidas sobre qual conta passou o cheque?
O António é um finório que aproveita o dinheiro que lhe damos para brilhar, alindando Lisboa com obras tão catitas como a pasteurização do Intendente, enquanto a SRU Porto Vivo não tem dinheiro para mandar cantar um cego.
Ele é finório e nós somos burros se não aproveitarmos o caminho desbravado. Após dez anos em que ficou a meio caminho entre o sujeito e o complemento direto, Rio parece ter finalmente percebido que nas relações com o Terreiro do Paço não pode ter medo de usar os cotovelos e deve falar alto e com voz grossa - com um pau na mão direita e um frasco de mel na esquerda.
Os terrenos do Sá Carneiro foram comprados pela Câmara do Porto. Pois bem, Rui, não sejas parvo, ameaça sabotar a privatização da ANA se não formos indemnizados.
Em 2004, na conversão da STCP em SA de capitais públicos, o Estado apropriou-se de terrenos e prédios que eram do município. Pois bem, Rui, fazes muito bem em exigir que ou nos devolvem os imóveis ou nos pagam uma indemnização.
E a imaginação é o limite. Por que não vendermos o Parque da Cidade à Cristas (tem a tutela do Ambiente), por uns 100 milhões de euros? Por que não vender os terrenos da Casa da Música ao Viegas (manda na Cultura) por uns dez milhões? Temos de deixar de ser lorpas.
Jorge Fiel
Esta crónica foi hoje publicada no Jornal de Notícias
Por trás de um grande homem como Rui Rio não há apenas uma grande mulher (a minha ex-colega e amiga Lídia) mas também outro grande homem - no caso Manuel Teixeira, o todo-poderoso chefe de gabinete do presidente da Câmara do Porto.
A todos quantos se dão à maçada de ler estas palavras, peço já desculpa por abusar da vossa paciência e deste espaço para falar deste meu ex-colega e amigo, mas parece-me que ele merece ser tirado da sombra discreta a que se remeteu e beneficiar um pouco das luzes da ribalta, pelo menos uma vez sem exemplo.
Natural de Tarouquela, Cinfães, estudou no seminário em Évora, onde debutou no jornalismo como correspondente do saudoso "O Comércio do Porto", diário em que viria a fazer carreira, chegando a director - e onde tive o prazer de o conhecer.
"Três tiros e uma mulher a menos" - que ocupa por direito um lugar no top ten dos meus títulos favoritos de primeira página - saiu da cabeça imaginativa e sintética do Manel Teixeira, um dos mais eficientes chefes de Redacção com quem trabalhei, amigo e apoiante da primeira hora de Cavaco, senhor de boas ligações aos sociais-democratas de Fafe (onde pontificava a família Marques Mendes) e apaixonado pelo Direito e o Jornalismo.
A vida dá as suas voltas, e após ter desempenhado um papel activo na privatização de "O Comércio do Porto", acabou a sua passagem pelo jornalismo na Radiopress, sem nunca concretizar o sonho de ultrapassar a circulação do "Jornal de Notícias".
Estava na TSF como administrador quando Rui o foi buscar para o seu lado, formando uma dupla que entrará seguramente para a história da cidade do Porto, não interessa agora para o caso se pelos bons ou maus motivos.
Antes de começar a alinhar estas frases, pensei em duplas famosas, que pudesse dar como exemplo para a dupla Rio/Teixeira. Afastei a hipótese Sherlock/ Watson, pois nenhum deles é tão brilhante como o detective ou tão leve de ideias como o médico.
Descartei as duplas Astérix e Obélix (nenhum deles teve a sorte de cair no caldeirão da poção mágica quando era bebé) e D. Quixote/Sancho Pança - apesar de reconhecer que mais frequentemente do que seria desejável o presidente da Câmara e o seu chefe de gabinete ficam com o pensamento enevoado e envolvem-se em investidas estéreis contra moinhos de vento imaginários.
Concluí, por fim, que a dupla mais parecida é a outrora formada pelo rei Luís XIII e o cardeal Richelieu - com Teixeira no papel do primeiro-ministro que foi o arquitecto do absolutismo francês e combateu sem tréguas os protestantes.
O Direito e o Jornalismo foram sempre as grandes paixões do Richelieu à moda do Porto, pelo que não me espanta que ele abuse do recurso a processos e se exceda a escrever para os jornais - nomeadamente para o JN (cisma que deve vir dos seus tempos de director d'"O Comércio do Porto").
Como tenho pena que o talento de Teixeira para a escrita esteja a ser desperdiçado em peças secas, vou sugerir à Direcção do nosso jornal que o convide para escrever no JN. Até já arranjei um nome para a coluna: Direito de Resposta. Seria uma bela prenda de Natal!
Jorge Fiel
Esta crónica foi hoje publicada no Jornal de Notícias
O aviso de que um homem tem sempre dois motivos para aquilo que faz - um bom motivo e o verdadeiro motivo - é um dos mais importantes legados à Humanidade do falecido John Pierpoint Morgan.
Estribados neste pedacinho de ouro do fundador do célebre JP Morgan,, jornalistas e comentadores desconfiam que os políticos raramente dizem o que pensam e pensam no que dizem. Marcelo protagonizou um clássico desta trampolinice quando disse que nem que Cristo descesse à Terra seria candidato à liderança do PSD, na véspera do congresso do Europarque, em 99, que o elegeu presidente.
Embora saiba que a capacidade em aldrabar o próximo, com competência, seja um dos requisitos fundamentais para quem quer progredir na coisa pública, acredito na existência de políticos honestos e bem intencionados, - apesar de não me achar um crédulo (não acredito em OVNIs).
Peguemos, por exemplo, no caso de Rui Rio, que tem preconizado com insistência a eleição directa do presidente da Área Metropolitana do Porto e o reforço dos poderes da Junta.
O bom motivo para a defesa deste sucedâneo da Regionalização seria, de acordo com Rio, beneficiar as duas grandes concentrações urbanas do país com um governo metropolitano, mais ágil e eficaz que o central.
Mas, de acordo com cínicos analistas, o verdadeiro motivo de Rio é assegurar o seu futuro imediato (está proibido por lei de se recandidatar à Câmara do Porto) ao mesmo tempo que tenta impedir o seu arqui-rival Menezes de assumir as rédeas de uma região que tem sofrido por estar órfã de liderança.
Sei que Rio não gosta de Menezes. Mas custa-me a crer que tenha apresentado aquela proposta com o duplo e maquiavélico objectivo de arranjar um emprego para ele e tramar o seu inimigo figadal.
Sei que Rio inscreveu no Orçamento da Câmara para 2012 a dotação para pagamento dos subsídios de férias e 13º mês. Custa-me crer que a explicação que ele deu (acautelar uma eventual declaração da inconstitucionalidade do Orçamento que prevê a suspensão ou redução do pagamento desses subsídios) seja tão só o bom motivo - e que o verdadeiro motivo seja demarcar-se publicamente e uma vez mais de Passos Coelho.
Sei que devemos estar sempre de pé atrás com os políticos, mas temo que uma vez mais a desconfiança seja exagerada. O Rui é mesmo assim. Cauteloso e prudente, do tipo de usar cinto e suspensórios ao mesmo tempo.
É por isso que nunca arriscou candidatar-se à liderança do partido. É por isso mesmo que seria um óptimo reforço para a equipa de Vítor Gaspar que tem em mãos a hercúlea tarefa de baixar até 0,5% o défice orçamental.
Seria uma transferência magnífica, em que todos ganhavam. Ganhava o Porto e ganhava o país. E nem oneraria muito os cofres do Estado, porque o Rui ainda não se desfez da casa que tem em Lisboa.
Jorge Fiel
Esta crónica foi hoje publicada no Jornal de Notícias
Sou tentado a dar razão às pessoas que acham que o Porto não andou muito para a frente com Rui Rio na Câmara. Conheço muita gente que diz que a cidade até andou para trás, mas acredito que essa análise mais severa pode ter a ver com um erro de que todos já fomos vítimas.
Quando estamos sentados numa carruagem parada na estação e o comboio estacionado ao lado inicia a sua marcha, dá a ideia que o nosso está em marcha atrás, mas tudo isso não passa de uma ilusão de óptica.
A velocidade com que Gaia se modernizou e prosperou com Luís Filipe Menezes é a responsável pela impressão que muitos portuenses têm de que a cidade progride às arrecuas como os caranguejos ou o nosso PIB.
O Porto tem estado um bocado parado mas talvez seja exagerado dizer que andou para trás e ignorar as qualidades do presidente da Câmara. Rui Rio não é um Fontes Pereira de Melo, um Duarte Pacheco ou um Fernando Gomes. Não é o líder de que o Norte precisa, mas é seguramente um político honesto e com bom coração, tantas vezes incompreendido pelos media.
Há coisa de dez dias, por exemplo, o JN responsabilizou a Câmara pelo despejo de um menina de nove anos do Bairro do Regado, quando, na verdade que foi reposta, o delicado assunto foi tratado pela DomusSocial, a empresa municipal criada pela Câmara para gerir a habitação social - pode parecer que não, mas se calhar faz toda a diferença!
O bom coração do Rui manifestou-se quando recebeu os motoristas da STCP e declarou-lhes a sua solidariedade - ou quando juntou os trabalhadores camarários no Rivoli e lhes confidenciou que o que mais o preocupa nestes dias cinzentos é saber que eles, como os outros funcionários públicos, "estão a ser tratados de forma injusta e desigual em relação a outros sectores da sociedade".
Há gente de mente tortuosa que diz que estas palavras não lhe saem do coração e as interpreta como uma mera manobra política de colagem a Cavaco e distanciamento de Passos para se posicionar numa eventual corrida à sua sucessão.
Da maledicência à calúnia é só um pequeno passo, e há também quem veja a mão de Rui por detrás do frenesim que se apodera da Polícia Municipal que multa sem piedade todos os carros mal estacionados nas imediações do edifício JN nos dias seguintes à publicação de notícias menos favoráveis à Câmara.
Sei que o Rui tem bom coração e seria incapaz de ordenar uma vingança tão mesquinha. Era capaz de jurar que se as vítimas do excesso de zelo localizado da Polícia Municipal se associarem e lhe pedirem uma audiência, ele vai recebê-las, mostrar-se solidário e accionar um inquérito interno ao estranho facto da tolerância zero em Gonçalo Cristóvão coincidir com a publicação no JN de notícias que não lhe agradam.
Jorge Fiel
Esta crónica foi hoje publicada no Jornal de Notícias
Com os dois pés no Porto é o slogan da recandidatura de Rui Rio.
A CDU acusa-o de lhe ter copiado o slogan, que tudo leva a crer se inspira, presumo que involuntariamente, no lugar em que o FC Porto teima em terminar cronicamente o campeonato nacional de futebol.
Suponho que a escolha do slogan se filia na única grande crítica que o número dois do PSD tem a fazer à candidatura de Elisa Ferreira – que acusa de ter um pé no Porto e outro em Bruxelas.
Sobre esta questão da colocação dos pés, devo dizer que acho mil vezes preferível ter um pé no Porto e outro em Bruxelas, do que ambos os pés no Porto e a cabeça em Lisboa – que é o que acontece com Rio.
Interrogado sobre se, em caso de reeleição, tenciona cumprir o mandato até ao fim, o ainda presidente da Câmara do Porto disse: “A pergunta faz sentido, mas não quero falar disso”.
É óbvio por que é que ele não quer falar disso.
Alguém duvida que, se uma onda laranja varrer o país, Rio não hesitará um segundo antes de trocar o Porto por um ministério?
Alguém duvida que, se vislumbrar uma oportunidade de suceder a Ferreira Leite, Rio não hesitará um segundo antes de trocar o Porto por um gabinete na rua de São Caetano à Lapa?
Com os dois pés no Porto? Deixem-me rir. Rio é como o gato escondido, que deixa o rabo de fora.
Ontem foi um dia triste para os boavisteiros – oito anos depois de terem sido campeões, caíram na terceira divisão emuito provavelmente não lhes resta alternativa senão a de imitar o Salgueiros e trilhar o caminho do calvário.
Impedido, pelas dívidas, de inscrever jogadores no escalão sénior de futebol, o Salgueiral arranjou um irmão gémeo, o Salgueiros 08, que começou este ano tudo de novo, a partir do último escalão, a II Divisão Distrital da Associação de Futebol do Porto.
Ontem foi um dia alegre para o FC Porto, que comemorou o tetra, pela noite dentro, com o autocarro que transportava os campeões a passar ao lado os Paços do Concelho, de fachada limpa e iluminada, mas de porta fechada (para o ano, se tudo correr bem, o penta será festejado outra vez da varanda).
Ontem foi um dia alegre para o Salgueiros 08, que se sagrou campeão da II Divisão da AF Porto ao derrotar uma vez mais o Aliança da Gandra.
Ontem foi um dia triste para o Boavista. Mas como tristezas não pagam dívidas, ‘bora aí Bessa, vamos levantar essa cabeça que o futebol precisa das vossas camisolas "esquisitas”.
Ontem foi um dia igual a muitos outros, nos últimos oito anos, no Porto, porque o presidente da Câmara não esteve no Bessa, a dar força ao seu clube no momento mais difícil da sua vida – nem esteve nos Paços do Concelho a receber os tetracampeões nacionais, nem na Senhora da Hora a festejar a subida do Salgueiros 08.
O programa eleitoral de Rui Rio cabe nas 20 linhas do editorial que assina na edição de Abril da revista Porto Sempre, que manda meter na caixa de correio dos munícipes.
O título revela que é mais um convertido à Obamania (“Força: Nós somos capazes”) e a arma, pouco secreta, com que espera obter mais um mandato (a continuação do namoro com os moradores dos bairros camarários) é mencionada en passant. Tudo o resto é de uma pobreza confrangedora.
O presidente da Câmara do Porto anuncia que está a preparar o próximo Verão no Porto com o louvável intuito de “contrariar o ambiente deprimido e triste que Portugal enfrenta”.
“Temos de começar por levantar a cabeça e elevar a nossa auto-estima”, explica. E como ele acha que vai conseguir isso?
Com a Queima das Fitas, o S.João - duas coisas, que tal como a ocorrência do Verão, são independentes da acção e vontade de Rui Rio – e o Circuito da Boavista, que provavelmente ficará com a grande iniciativa emblemática dos seus oito anos na presidência da Câmara.
Depois virá o Oceanário do Porto (um investimento de privados), a Red Bull Air Race (a única iniciativa que fez a meias com o seu arqui-inimigo Menezes) e a inauguração da primeira fase do Parque Oriental do Porto.
Tudo isto sabe a muito pouco? É com o Verão, a Queima das Fitas, o S. João, a corrida dos calhambeques e dos aviões que vamos voltar a ter orgulho a ser portuenses? Não me parece.
Para começarmos a levantar a cabeça e elevar a nossa auto-estima, em Setembro, temos de devolver Rui Rio ao PSD. A tempo inteiro.
Hoje, sexta feira, dia 17 de Abril, era suposto abrir no Batalha o Festival Intercéltico do Porto.
Era suposto abrir, mas não vai abrir porque a Câmara do Porto não confirmou em tempo útil o apoio a este festival, depois de lhe ter reduzido o subsídio em 2008.
O mais antigo festival de música do Porto é a mais recente vítima da política anti-cultural de Rui Rio, fundamentada na célebre graçola de que quando ouve falar em cultura leva logo a mão à carteira.
A cultura precisa de apoio financeiro, mas esse apoio pode muito bem render pingues dividendos. A cidade de Barcelona apoiou fortemente um projecto comercial de Woody Allen e ficou muito satisfeita com o retorno que recebeu em notoriedade do filme Vicky Cristina Barcelona.
O Intercéltico, na música, é um dos ícones da cultura do Porto, tal como o Fantasporto, no cinema, e o Fitei, no teatro. É criminoso deixá-lo cair.
E é preciso ter muita lata para mandar o Gabinete de Comunicação municipal mandar para a agência Lusa um comunicado, em que chama “caçadores de subsídios” aos agentes culturais da cidade.
A história não é nova, mas é exemplar. O Teatro Art’Imagem perdeu o direito a receber um subsídio camarário de 20 mil euros por se ter recusado a assinar um contrato que tinha uma cláusula que inibia o grupo de produzir a mínima crítica à acção de Rui Rio.
O episódio diz tudo sobre a coragem e independência do grupo de teatro e sobre o autoritarismo que marca o pensamento e a acção de uma gestão autárquica que julgava poder comprar com um pequeno monte de notas a dignidade e silêncio alheios.
Não foi para isto que se fez o 25 de Abril.
O Provedor de Justiça deu o primeiro passo ao declarar inconstitucional a cláusula que impõe a mordaça em troca do subsídio.
Compete agora ao Tribunal Administrativo e Fiscal do Porto (para onde o Teatro Art’Imagem recorreu, exigindo da Câmara uma indemnização de 20 mil euros pelos danos causados) confirmar que a democracia portuguesa está equipada com mecanismos legais capazes de rejeitar a prepotência de quem não sabe conviver com a crítica.
PS. Terça feira à noite, encontrei Rui Moreira na Marisqueira do Miguel, em Matosinhos. No intervalo do Manchester-FC Porto, ele esclareceu-me que a empresa que vendeu não era a da família (a fábrica de colchões Molaflex), mas antes um negócio que tinha sido criado por ele próprio. Aqui fica a rectificação acompanhada das minhas desculpas pelo erro - e da minha satisfação por ele ter recusado encabeçar a lista do CDS/PP para as europeias.
Tenho uma excelente opinião do Rui Moreira. Sobre a questão nortenha, tem ideias claras e desassombradas (com as quais eu geralmente estou de acordo), que sabe expor com clareza e paixão.
Rui Moreira tem sido um dos poucos oásis que sobressaem no meio do árido deserto de líderes que o Norte atravessa desde que o Porto matou o pai (Fernando Gomes) – no sentido freudiano da acção.
Como agravante, à solidez e justeza das ideias, Rui acrescenta um já muito razoável índice de popularidade, boa imprensa e uma belíssima imagem televisiva – factor não negligenciável nestes tempos em que passar mal televisão pode ser letal para um líder com ambições.
O único calcanhar de Aquiles (a falta de espessura do seu curriculum, já que não tem tido actividade empresarial relevante desde que vendeu o negócio da família) é muito atenuado pelo seu bom desempenho na presidência da Associação Comercial do Porto.
A única coisa que me inquieta no momento é desconhecer o que ele se prepara para fazer com o capital político que reuniu – e que já desperta cobiças, como se vê pelo namoro descarado que Rui Rio lhe anda a fazer e pelo convite que Paulo Portas lhe dirigiu para encabeçar a lista do CDS ao Parlamento Europeu.
É natural que Rui Moreira prefira manter o máximo de hipóteses em aberto, entre as quais se contam as mais desejadas presidências do Porto (a do clube e a da cidade).
Mas, mais tarde ou mais cedo (se calhar mais cedo…), ele terá de decidir se o que mais lhe interessa é a liderança desportiva ou política da região – ou se prefere ir viver calmamente para as margens de um lago suíço (já que não me acredito que Bruxelas faça parte do seu mapa de opções).