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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

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A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Os 200 mil da Avenida e o lápis do cosmonauta

Yuri Gagarin, o cosmonauta soviético que a 12 de Abril de 1961 se tornou o primeiro homem no espaço

Devido à ausência de gravidade, as esferográficas normais não funcionam no espaço.

Este foi mais um dos milhões de problemas que os cientistas norte-americanos e soviéticos tiveram de resolver nos anos 60, quando a conquista do espaço era um dos tabuleiros em que se disputava a Guerra Fria.

Os americanos desenvolveram uma caneta que escreve em ambiente de gravidade zero. Os soviéticos optaram por uma solução mais simples: equiparam os cosmonautas com lápis.

A opção americana deve ter contribuído mais para o avanço do conhecimento, não seduz-me mais a simplicidade como os soviéticos contornaram o obstáculo.

Há sempre dois tipos de soluções um mesmo problema, as simples e as complicadas. A mim encantam-me as simples.

Foi por isso que gostei de ouvir a explicação simples que Carvalho da Silva deu, na 5ª feira, à Judite de Sousa, para 200 mil pessoas terem preferido descer a avenida da Liberdade a anteciparem o fim-de-semana.

Os 200 mil (e mais uma data de gente) não acham graça a que Armando Vara, destacado em missão de salvamento, vá para o BCP ganhar o dobro do que recebia na Caixa.

Os 200 mil não acham justo que o salário mensal médio na EDP seja de 1669 euros e que o presidente  ganhe 1666 euros por dia só em prémio de gestão.

Não me move contra Armando Vara e António Mexia, que tudo leva a crer serem sérios e competentes. Vara não ficou bem na fotografia na trapalhada da Fundação para a Prevenção e Segurança, no Governo Guterres. Mexia não tinha razão quando quis vender as posições que a Galp tinha na exploração petrolífera. Mas, caramba, quem nunca errou que atire a primeira pedra!

Mas Vara e Mexia (e tantos outros gestores) deveriam ter tido o cuidado de não se pôr a jeito dos discursos mobilizadores do líder da CGTP.

Não é bom para ninguém (tirando para o próprio Richard Fuld) que o CEO da Lehman tenha recebido 100 milhões de euros de prémio poucos meses antes do banco ir ao tapete, accionando o gatilho que fez disparar a crise.

Não é bom para ninguém (excluindo os beneficiários) que a AIG se preparasse para distribuir 168 milhões de dólares de bónus aos executivos, depois da Reserva Federal ter gasto 170 mil milhões de dólares a salvá-la.

Da mesma maneira que não é bom para a Igreja Católica (em particular para a credibilidade do voto de pobreza dos franciscanos) saber-se que o padre Melícias tem uma pensão mensal de reforma de 7450 euros, também não é bom para a paz social no país que os gestores do PSI 20 ganhem, em média, 23 vezes mais do que os trabalhadores.

De acordo com um estudo da OIT, Portugal é dos países desenvolvidos onde nas últimas décadas mais cresceu o fosso entre os trabalhadores mais bem remunerados e os que recebem salários mais baixos.

Para evitar o alastrar da contestação, uma solução simples (tipo lápis para os cosmonautas) seria o Governo socialista impor um tecto salarial (um múltiplo razoável do salário mínimo ou o salário do PR) a todas as empresas que sejam apoiadas com o dinheiro dos contribuintes.

Jorge Fiel

www.lavandaria.blogs.sapo.pt

Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias

Lá terá de ser a mal...

Já se sabia que as directas do PSD não iriam aquecer nem arrefecer no que toca à mais importante das reformas de que o país precisa e que continua arrumada a um cano numa gaveta fechada à chave.

Sentindo no ar um leve cheiro a poder, Passos Coelho apressou-se a sossegar os panditas lisboetas e confessou já estar curado do desvio regionalista da sua juventude.

Ferreira Leite continua igual a si mesma. Clareou o cabelo, acrescentou ao discurso um ingrediente social (pelo que diz já mais parece mas um Guterres de saias do que o tradicional Cavaco de saias)  mas no essencial continua fiel ao mais retrógado centralismo e declara-se ferozmente anti-Regionalização.

Não é inteligente esperar que os socialistas no poder em Lisboa resolvam abrir mão de poder para o transferir para as regiões.

Quando o maior partido da oposição abdica da retórica regionalista (que abandonaria logo que chegasse ao poder, como a história nos prova) a conclusão óbvia é que não vai ser possível conquistar a Regionalização a bem.

Ora se não for a bem, lá terá de ser a mal. É isso que nos exigem os 100 mil desempregados do distrito do Porto. 

Não podemos tolerar que os salários praticados na segunda maior cidade do pais continuem a ser inferiores em 10% à média nacional. Temos de nos revoltar!

Jorge Fiel

www.lavandaria.blogs.sapo.pt

 

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