Sou portista, mas tenho uma certa simpatia pelo Sporting. Deve ter a ver com o equipamento. Aquelas camisolas às riscas horizontais verdes e brancas rimam com o relvado, principalmente nos jogos à noite. E devo dizer que a camisola Stromp também tem um encanto muito vintage.
O Sportem, como pronunciam os leões com pedigree, pode não ganhar dois campeonatos seguidos há 58 anos, pode estar mais dez anos sem ir para o Marquês festejar o título, pode perder três competições no curto lapso de semana, mas nada disto belisca a inabalável fé dos seus adeptos em que "este ano é que vai ser" (convicção mantida até algures entre o início do outono e o Natal) ou "para o ano é que vai ser".
A capacidade sportinguista para formar nove em cada dez dos nossos melhores futebolistas (Futre, Figo, Ronaldo, João Moutinho, Quaresma, etc....) e, depois, retirar disso pobre partido tem todos os condimentos de uma maldição, iniciada com Eusébio (raptado pelo Benfica após ter crescido no Sporting de Lourenço Marques), e apenas doura a imagem romântica de um clube azarado, estoicamente apoiado por um regimento de sofredores indefetíveis, fortes por saberem que o verde é a cor da esperança.
A cultura otimista do "para o ano é que vai ser" apoderou-se dos gabinetes dos administradores da SAD, como é evidente se dermos uma vista de olhos nas contas de 2011/12 e previsões para 2012/13.
No último exercício, o Sporting registou um prejuízo de 46 milhões de euros, alarmante na medida em que é superior aos 40 milhões de euros das receitas. Mas estas nuvens negras não são suficientes para deitar abaixo a confiança no futuro dos administradores leoninos que antecipam para o exercício em curso (2012/2013) um aumento de 40% nas receitas!
Não é belo prever um crescimento de 40% nas receitas num país em recessão? Não é magnífico esperar obter mais quatro milhões de euros em receitas de novos sócios numa época desportiva em que a maior alegria dos adeptos foi a suada vitória caseira sobre o Gil Vicente?
Os sportinguistas são um exemplo para o país. Se eles acreditam ser possível venderem neste ano mais quatro milhões de euros de camisolas, por que é que nós haveremos de duvidar de Vítor Gaspar quando ele diz que até 2014 vai cortar quatro mil milhões na despesa do Estado?
Se os sportinguistas acreditam que vão conseguir nesta época mais 4,5 milhões de euros em patrocínios, por que é que haveremos de duvidar quando Gaspar nos garante que daqui a um ano a nossa economia vai estar a crescer?
Os sportinguistas são um exemplo para um Portugal que se parece cada vez mais com o Sporting. Quando afirmou que os portugueses são o melhor povo do Mundo, o ministro das Finanças estava a sonhar com um país povoado por dez milhões de sportinguistas.
Até simpatizo com o Sporting, provavelmente por causa do equipamento, que fica lindamente em relvados bem tratados (não é o caso do de Alvalade…), em particular nos jogos nocturnos. No género vintage, também acho graça à camisola Stromp, mas esgotam-se aqui os factores de atractividade de um clube que teima em mimetizar o que Portugal tem de pior.
Há coisa de cinco anos, quando conheci José Eduardo Bettencourt, num curso no INSEAD, fiquei com a ideia de que era um óptimo comercial, opinião favorável reforçada quando Horta Osório, o Mourinho da banca, o promoveu a administrador do Santander Totta.
Pena que tenha arruinado a reputação em ano e meio com presidente do Sporting. Perdeu quota de mercado (medida em sócios pagantes e média de assistências em Alvalade) e apesar de, em 18 meses, ter investido 27 milhões de euros em 18 jogadores, não conseguiu um único titulo e aprofundou a estratégia suicida de contratar ex-craques caros e vender, ao desbarato e antes do tempo, as jovens promessas formadas na Academia.
Os cinco directores desportivos (Pedro Barbosa, Sá Pinto, Salema Garção, Costinha e Couceiro) e quatro treinadores (Paulo Bento, Carvalhal, Paulo Sérgio e Couceiro) que desfilaram no seu curto consulado são a prova dos nove de uma gestão errante, cuja incoerência ficou demonstrada no episódio da transformação de João Moutinho de “maçã podre” (Julho) em “profissional fantástico” (Novembro).
Bettencourt é bom nos soundbytes mas carregará para sempre a cruz de ter conferido à eternidade a dimensão do efémero (meio ano depois do “Paulo Bento forever”, o treinador foi despedido) e de sair de cena sem revelar quem é o Herri Batasuna do Sporting.
Neste Outono da dinastia Roquette (inaugurada há 16 anos por Santana Lopes), também não ficam bem na fotografia os sócios e os cinco estarolas que se candidataram a gerir o clube dos cinco violinos.
Seis meses após ter sido eleito com 90% dos votos, Bettencourt já estava a ser fisicamente ameaçado por adeptos, que nitidamente subavaliou ao classificá-los como “uma minoria de cretinos”.
Abrantes Mendes pode pecar por excesso quando afirma que o Sporting é “um clube de totós”, mas arrepia ouvir o provável futuro presidente do clube (etiquetado de “Vale Azevedo de 3ª” por Godinho Lopes) dizer que ex-Pides chegaram a ministros após o 25 de Abril.
Convinha ao país olhar-se ao espelho do Sporting e ver que há três meses, quando da convocação das eleições antecipadas, o clube lutava pela Taça da Liga e Liga Europa, e tinha 28 pontos. No entretanto, ficou fora de todas as competições, só somou mais dez pontos - e está a 30 do meu clube. Vale a pena pensar nisto.
Jorge Fiel
Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias
As contas do último exercício do Sporting deixaram-me muito preocupado com o futuro do país, porque o PEC confeccionado por Sócrates para trazer o défice orçamental de volta para baixo dos 3% copia o modelo do plano traçado pela direcção leonina para pôr em ordem as finanças do clube.
Para endireitar as contas do Sporting, a direcção sacrificou o investimento, atirando o clube para um grave recessão, com as receitas e os resultados desportivos em queda livre. Os resultados do PEC leonino são tão devastadores como as visões do Inferno de Hieronimus Bosch.
No curto espaço de um ano, o prejuízo subiu de 8,6 milhões para 14,8 milhões de euros, o passivo assumido do grupo Sporting já vai nos 310 milhões e as receitas despenharam-se para 22,7 milhões, reduzindo-se em dez milhões. E é mais provável o Clark Kent e Super Homem aparecerem juntos do que as coisas melhorarem. Na próxima época não há Champions e não se perspectiva nenhum jackpot no capítulo das transferências. Mesmo bem vendidos, Moutinho, Veloso e Izmailov renderão menos do que o Benfica vai encaixar com a venda do Di Maria. É a catástrofe iminente sem meios para a esconjurar.
Ao olhar para o Sporting confirmamos que Joseph Stiglitz, Nobel da Economia, estava carregado de razão quando nos avisou que Portugal precisa de investir, pondo todas as fichas no crescimento e não na austeridade, lembrando que desde a Grande Depressão se sabe que o caminho que está a ser seguido é desastroso.
Ao ver o director financeiro do Sporting, José Filipe Nobre Guedes de chapéu na mão, a mendigar ao BCP e BES que aceitem renegociar 55 milhões da dívida (transformando-os em obrigações convertíveis) para retirar o clube da falência técnica, Teixeira dos Santos está a ter um flashforward da figurinha que vai fazer dentro de poucos meses para conseguir refinanciar a divida portuguesa e evitar que a República entre em incumprimento.
Agora é tarde, Inês é morta, mas tenho muita pena que antes de cozinharem um PEC igual ao do Sporting, o benfiquista Sócrates não se tivesse aconselhado com Luís Filipe Vieira (que arriscou elevar o passivo em 38 milhões, mas ganhou o campeonato, valorizou extraordinariamente os seus activos e comprou a entrada na Liga dos Campeões) e que o portista Teixeira dos Santos não tivesse consultado Pinto da Costa, para aprender como é que ele conseguiu fechar o exercício de 2009 com 10,7 milhões de lucro e ganhar três em cada quatro campeonatos nunca deixando de investir – e mesmo assim tem o passivo mais baixo dos três grandes. Tenho muita pena que Portugal esteja cada vez mais parecido com o Sporting.
Jorge Fiel
Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias
Ao derrotar o Marselha, no Dragão, por 2-1, o FC Porto assumiu a liderança isolada do grupo A da Champions e tem praticamente garantida a passagem à fase seguinte da prova.
Ao perder com o Celtic, em Glasgow, por 1-0, o Benfica isolou-se no último lugar do grupo B e depende de um milagre para poder continuar nas competições europeias.
Ao empatar com o Roma, no Alvalade XXI, por 2-2 o Sporting consolidou o terceiro lugar do grupo F e não deve deixar escapar a qualificção para a Taça UEFA.
Este conjunto de resultados vem provar o que espíritos mais perspicazes já alertavam desde o Prater de Viena, em 1987, o Olímpico de Sevilha, em 2003, e a Arena de Gelsenkirchen, em 2004.
Está à vista de todos. O monstruoso processo Apito Dourado tem ramificações internacionais.
A procuradora geral ajunta Maria José Morgado não pode esperar nem mais um segundo. Tem de avisar a Interpol e denunciar esta medonha conspiração internacional que tem epicentro na mafiosa cidade do Porto!
Metam já (ou pelo menos quanto antes) as palavras chave «fruta» e «café com leite», declinadas em todas as línguas dos países filiados na UEFA, no sistema pan-europeu de escutas telefónicas a árbitros.