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Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

Bússola

A Bússola nunca se engana, aponta sempre para o Norte.

A moda é o segredo da sobrevivência

Nos últimos 15 anos, a indústria têxtil e de vestuário (ITV) perdeu 150 mil empregos – ou seja metade do seu efectivo.

Apesar do declínio retratado a cru nesta estatística de emprego, a ITV ainda vale 12% das nossas exportações, representa 10% da nossa indústria transformadora – e 25% do emprego industrial português.

Os vales do Cávado e do Ave tornaram-se umas bombas de relógio de conflitualidade social que ainda só não rebentaram porque a capacidade minhota de desenrascanço aliada à inteligência das lideranças patronais têm conseguido evitar que o detonador seja accionado.

Mas a destruição de riqueza e emprego na ITV vai continuar na próxima década. Paulo Vaz, director geral da ATP (Associação Têxtil e Vestuário de Portugal) prevê mais dez anos de contracção – e que a indústria só vai estabilizar em 2018.

No final de um quarto de século de declínio, restarão 1 500 empresas com 70 mil trabalhadores a exportar quatro mil milhões de euros/ano, prevê Paulo Vaz.

A moda é o santo e a senha para a sobrevivência. “O importante passará a ser disponibilizar ao consumidor final um conjunto completo, coordenado e integrado de produtos de moda, composto por têxteis, calçado e outros acessórios”, diz o director geral da ATP.

“Tudo isto implicará muito mais moda, mais actividade a montante e a jusante do processo produtivo, mais serviços agregados e mais recursos humanos qualificados”, conclui,

A lucidez com que a inteligência têxtil está a preparar a retirada organizada de todo um importante sector empresarial, poupando-o ao pânico e à debandada, é digna de elogios – e merecedora que o Estado português faça tudo que está ao seu alcance para aliviar o desconforto e as dores de mais uma década de violenta destruição de emprego na indústria a quem o país deve não ter caído na bancarrota, nos anos da ressaca da Revolução de Abril.  

Jorge Fiel

www.lavandaria.blogs.sapo.pt

 

Darwin e o Vale do Ave

Às vezes os números não são tão frios como aparentam.  É o caso dos 6,8% de crescimento das nossas exportações têxteis, registado entre Fevereiro de 2007 e de 2008.

Estes 6,8% são uma estatística que nos aquece a alma e é a prova dos nove das capacidades únicas de regeneração do tecido empresarial nortenho, vilipendiado pelos panditas lisboetas do costume habituados a falar com a boca cheia pela lenga lenga dos Ferraris e do trabalho infantil -  para apoucar quem evitou que o pais abrisse falência no rescaldo da Revolução de Abril.

Pela primeira vez , após dolorosos anos de crise, as vendas ao exterior da indústria têxtil e de vestuário cresceram a um ritmo superior às importações, que no mesmo período acusaram uma quebra de 5,3%.

Estas estatísticas do INE mostram o Norte no seu melhor, capaz de se adaptar à globalização, à abertura dos mercados mundiais aos produtos chineses e à desaceleração económica nos principais mercados de exportação do sector.

A 1 de Janeiro de 2005, as portas da União Europeia e dos Estados Unidos ficaram escancaradas à entrada das roupas baratas “made in China” , que já era o maior exportador mundial de vestuário, baseando a sua feroz competitividade num tripé: custos (baixos), eficiência (enorme) e dimensão (gigantesca).

O desarmamento das barreiras alfandegárias ao livre comércio deixou o coalhado de nuvens negras o horizonte de uma indústria que, no seu essencial, baseara a competitividade num fundamento primitivo (o baixo custo da mão de obra).

No Vale do Ave, onde bate o coração da indústria têxtil, temia-se o pior. Mas o cenário desolador, marcado pelas falências e de uma perda recorde de emprego líquido (apenas superado pela registado na construção civil, que foi socialmente atenuado pela emigração para Espanha), foi sendo pintados com cores mais alegres por dezenas de exemplos luminosos de empresas que souberam reestruturar-se, adequando-se a este mundo em fervilhante mudança.   

A têxtil deu uma prova de vida ao país, explicando aos mais distraídos que eram exageradas as notícias que a davam como moribunda. Soube mudar o perfil, tornar-se competitiva na nova e difícil conjuntura, internacionalizar-se e diversificar os seus mercados. Demonstrou que Darwin estava carregadinho de razão quando há uns anos atrás nos avisou que apenas sobreviveriam os mais capazes.

Quando a crise eclodiu na Cintura Industrial de Lisboa e na Península de Setúbal, o bombeiro teve de ser o Governo a usar o nosso dinheiro para comprar a Autoeuropa e apagar esse fogo.

Quando a crise incendiou o Vale do Ave, os empresários e operários da têxtil não ficaram sentados à espera da ajuda governamental, porque sabiam que morreriam queimados se o fizessem. Encarregaram-se eles próprios de extinguir as chamas.

É esta a diferença entre o Norte e o Sul.

Jorge Fiel

www.lavandaria.blogs.sapo.pt

Esta crónica foi publicada no DN

 

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